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Atletismo

25/08/2019 01h32

Parapan Lima 2019

Soco no chão, festa em família e final entre amigas: Brasil leva 19 medalhas nas disputas individuais do tênis de mesa

Paulo Salmin extravasou ao ganhar o primeiro ouro para o país na modalidade em Lima. Depois, mais quatro atletas garantiram o primeiro lugar no pódio e vagas para Tóquio 2020

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Quando Paulo Salmin venceu a final da classe 7 no individual masculino do tênis de mesa dos Jogos Parapan-Americanos, neste sábado (24.08), o paulista conquistou o primeiro ouro para o Brasil na modalidade em Lima 2019 e não perdeu a chance de brincar: “Aqui o tênis de mesa começou com o pé direito, mesmo eu não tendo pé direito. Quero desejar boa sorte para todos os amigos de todas as modalidades que vão competir nos próximos dias”.

Paulo Salmin garantiu sua ida aos Jogos Paralímpicos Tóquio 2020. Foto: Helano Stuckert/ rededoesporte.gov.br

Paulo nasceu sem o fêmur da perna direita e precisou fazer várias cirurgias durante a infância para se adaptar à prótese. Quando criança, jogava futebol com os amigos de muletas, andava a cavalo e sempre gostou de esporte. “Eu sou muito competitivo. Eu sou daqueles que perde um jogo no treino e fico sem falar com os outros um dia e a noite inteira. Fico duas horas depois do treino, chego antes. Eu me preparar muito vem de eu não querer perder. E essa competitividade vem desde que eu era pequeno”, conta.

Quando colegas levaram um troféu para a sala de aula e ele ficou sabendo que era de tênis de mesa, não teve dúvidas: começou a praticar a modalidade. “Essa competitividade me ajudou a não tratar a deficiência como um problema, mas como um jeito de dar a volta por cima de tudo isso. Eu sabia que eu mexia menos, então por isso eu teria que fazer algo melhor, sacar melhor, posicionar a bola melhor. Foi assim que o tênis de mesa entrou na minha vida e foi entrando de um jeito que chega uma hora que não sai mais”, lembra.  

Aos 15 anos, Paulo entrou na seleção brasileira de tênis de mesa paralímpico. E agora, aos 25, garante o bicampeonato no Parapan e uma vaga para os Jogos Paralímpicos de Tóquio. “Chegar aqui e conseguir confirmar o favoritismo, tirar esse caminhão das costas, porque atleta de alto rendimento querendo ou não vive de resultados, é uma felicidade tremenda”.

Para comemorar, ele se enrolou na bandeira do Brasil, gritou muito e chegou a dar um soco no chão. “Ainda bem que eu lembrei que é a mão esquerda, que não faz muita diferença. Acho que poder extravasar, não para desrespeitar o adversário, mas poder comemorar, por para fora tudo que a gente guarda e agora subir no pódio, carregar essa bandeira e representar o Brasil, é muito bom”.

Com o ouro no individual em Lima, Paulo soma agora cinco medalhas em Parapans: foi ouro no individual e por equipes em Toronto 2015 e ouro por equipes e prata no individual em Guadalajara 2011. “A primeira medalha eu era muito novo, tinha 17 anos. Eu meio que sabia o que poderia acontecer, mas não entendia. Eu era até uma classe acima, tinha uma avaliação funcional classe 8. E depois no Parapan de Toronto já joguei na classe 7, que é a que eu me destaco internacionalmente”, lembra.

Paulo agora quer o ouro por equipes, mas faz questão de ressaltar que a medalha individual também é a coroação de um trabalho que tem muita gente envolvida. “Temos uma equipe multidisciplinar, com psicóloga, nutricionista, todos do Comitê Paralímpico Brasileiro, dois técnicos que sabem tudo da gente, que têm que saber desde a hora que a gente acorda até a hora que a gente dorme. Então é uma comemoração de todo mundo que esteve comigo, que deu qualquer tipo de suporte”, concluiu.

Melhores amigas, Danielle e Jennyfer disputaram a final da classe 9. Foto: Rodolfo Vilela/ rededoesporte.gov.br

Mistura de sentimentos

Com 30 atletas no tênis de mesa, o Brasil subiu no pódio da modalidade 19 vezes em Lima até agora. Nas disputas individuais, a seleção somou cinco ouros, cinco pratas e nove bronzes. Os campeões também garantiram vagas nos Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020. Além de Paulo Salmin, conquistaram a medalha de ouro Joyce de Oliveira (classe 4), Luiz Filipe Manara (classe 8), Danielle Rauen (classe 9) e Carlos Carbinatti (classe 10). Para os dois últimos, a conquista veio com uma mistura de sentimentos, já que as disputas foram contra brasileiros. Danielle venceu Jennyfer Parinos e Carlos derrotou Claudio Moura.

"Eu queria que nós duas ganhássemos, mas tem várias chances ainda para ela (Jennyfer) conseguir a vaga em Tóquio”

Danielle Rauen

“Se jogar uma final de Parapan já é difícil, imagina enfrentar uma amiga. Ela mora comigo, a gente convive 24 horas. A gente sempre torce uma pela outra, é irmã de verdade mesmo, então é o dobro de difícil. Mas infelizmente a gente tem que passar por isso”, disse Dani, que venceu Jennyfer por 3 x 0.

A amizade, que já dura seis anos - desde que Danielle entrou para a seleção brasileira de tênis de mesa paralímpico, em 2013 - já sobreviveu a vários confrontos, tanto em competições nacionais quanto internacionais. Mesmo assim, depois de cada jogo um turbilhão de emoções diferentes atinge as duas atletas. “É um sentimento muito ruim, muito ruim mesmo, porque a gente mora junta, faz tudo juntas. Fico feliz pela vaga dela e por ela ter ganhado, porque ela é muito minha amiga, mas triste, porque não queria ter perdido”, disse Jennyfer, sem conseguir segurar as lágrimas.

Para Danielle, a vitória trouxe alegria pela conquista, tristeza pela derrota da amiga e também alívio por ter garantido a vaga em Tóquio. “Estou aliviada demais, um peso gigantesco saiu das minhas costas, e ao mesmo tempo estou triste por ela, porque a gente sabe o quanto a gente treina e batalha para estar aqui. Eu queria que nós duas ganhássemos, mas tem várias chances ainda para ela ir e a gente vai estar junto nessa”, completou.

Abraço nos pais

O ouro de Luiz Filipe Manara teve direito a uma festa especial na arquibancada. Depois de se tornar bicampeão do Parapan, o paulista fez questão de correr para abraçar seus pais, Luiz Carlos e Eliana Manara. “Eles são tudo para mim. Desde que eu nasci com o problema da deficiência, eles sempre fizeram tudo para mim, sempre me apoiaram. Acho que não só minhas vitórias, mas meu empenho, minha dedicação, minha vontade de vencer sempre vão ser para eles, por causa deles, porque eles merecem demais, talvez até mais do que eu”, emocionou-se Luiz.

Manara pulou os aparadores e correu para as arquibancadas comemorar com os pais. Fotos: Rodolfo Vilela/ rededoesporte.gov.br

Por falta de oxigenação durante o parto, ele nasceu com paralisia cerebral, que comprometeu o lado direito do corpo. Ainda criança, foi operado no Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília, e lá teve contato com o tênis de mesa. Desde que entrou para a seleção brasileira, seus pais sempre o acompanharam nas competições. “O coração está a mil. A gente é muito ligado, eu tenho só dois filhos, então a gente é muito unido mesmo, a família toda. O pessoal da minha cidade (Mogi Mirim-SP) está num alvoroço, é muita emoção”, comemorou a mãe de Luiz, Eliana Manara.

Com a vaga para os Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020 garantida, a família já pensa na viagem do ano que vem. “Ela (a mãe de Luiz Filipe) desde que nós viemos para cá falou: ‘Para Tóquio eu não vou’. Agora ela já até postou no celular dela ‘Rumo a Tóquio’. Então é amadurecer a ideia”, contou o pai de Luiz Filipe, Luiz Carlos Manara.

Chuva de medalhas

Além de Jennyfer Parinos e Claudio Moura, outros três brasileiros conquistaram medalhas de prata no Complexo Esportivo de Videna, onde está sendo disputado o tênis de mesa nos Jogos Parapan-Americanos de Lima: Aloísio Júnior, na classe 1, Eziquiel Babes, na classe 4, e Marliane Santos, na classe 3. Os nove bronzes foram conquistados por: Conrado Contessi (classe 1), Guilherme Costa e Iranildo Espíndola (classe 2), Welder Knaf (classe 3), Alexandre Ank (classe 4), Lucas Carvalho e Ramon Silva (classe 9), Cátia Oliveira (classe 2) e Lethícia Lacerda (classe 8).  

Infográfico - Jogos Parapan-Americanos Lima 2019

Mateus Baeta, de Lima, no Peru - rededoesporte.gov.br