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Atletismo

28/08/2019 01h00

Parapan Lima 2019

Seleção de rúgbi em cadeira de rodas vê medalha escapar, mas quer manter evolução

Brasil perdeu o bronze nos Jogos Parapan-Americanos para a Colômbia, mas trabalho da treinadora Ana Ramkrapes levou a equipe a subir dez posições no ranking mundial

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Em 2016, depois que o Brasil disputou os Jogos Paralímpicos do Rio e terminou em oitavo e último lugar, a seleção de rúgbi em cadeira de rodas estava na 19ª posição do ranking mundial da modalidade. Hoje, o Brasil ocupa o 9º lugar entre as melhores seleções do mundo. Nesta terça-feira (27.08), o time verde e amarelo viu a medalha de bronze nos Jogos Parapan-Americanos escapar ao perder para a Colômbia, por 46 x 43, em Lima, no Peru. Mas o trabalho que levou a seleção a estar entre os dez melhores do mundo está feito e pronto para possibilitar voos ainda mais altos.

Ana Ramkrapes durante a disputa da medalha de bronze em Lima. Foto: Helano Stuckert/ rededoesporte.gov.br

A responsável por implantar o projeto é a única treinadora mulher a comandar um time de homens no torneio de rúgbi em Lima: Ana Ramkrapes. “Esse ganho de dez posições no ranking foi muito trabalho. Acho que vai ficar como legado mesmo. A gente faz relatórios e apostilas, todos os testes físicos, estudos técnicos e táticos, todos estão arquivados. Caso a comissão técnica saia, a gente não quer que a outra comissão recomece do zero, como a gente teve que recomeçar, para que o trabalhe e a evolução continuem independentemente de quem esteja”, disse Ana após a partida nesta quinta.

Durante a fase de grupos, o Brasil venceu a Colômbia por 48 x 41. Depois perdeu para o Canadá por 58 x 43 e superou a Argentina por 65 x 21. Na semifinal, nova derrota para o Canadá, por 56 x 46. E na despedida, a amarga derrota para a Colômbia. “Foi doído. A gente já sabia que seria um jogo totalmente diferente do primeiro. O que eu pedi para eles é para não desistir do jogo. Isso não tem a ver com o resultado, tem a ver com o trabalho feito. É triste, mas eu saio sabendo que eles deram tudo, só faltou o fator psicológico. Mas é uma equipe preparada para ser medalhista”, elogiou a treinadora.

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Foto: Helano Stuckert/ rededoesporte.gov.br

Além do fator psicológico, uma questão incomodou bastante a técnica brasileira. “A arbitragem. Eu volto a falar que o fato de ser mulher ainda está influenciando nisso”. O rúgbi em cadeira de rodas é uma modalidade mista, embora o Brasil ainda não tenha mulheres na seleção principal. Mesmo assim, Ana sente a diferença de tratamento em diversas situações durante os torneios da modalidade. “Já teve um jogo no Parapan da modalidade que eu falei: ‘isso está errado’. E o árbitro: ‘não, não está errado’. Então o técnico do outro time trouxe o estatístico dele e falou: ‘ela está certa’. E o árbitro, então mudou a súmula, que é um documento oficial=. Isso me dói bastante. No último torneio chorei e falei para os atletas: ‘Olha, estou sentindo que estou atrapalhando por ser mulher’. Mas eles falaram: ‘A gente está com você até o final’. E o Manoel (auxiliar técnico) também me apoia muito”, desabafou.

"Por que sempre o homem é o comandante de um pelotão de homens?”
Ana Ramkrapes

“A gente vivenciou situações de assédio com ela. A gente nunca viu uma equipe com treinadora mulher desde que a gente começou a viajar. E ela achou que estava atrapalhando por ser mulher. Mas a gente apoia ela. Ela está sendo muito importante para nossa evolução”, afirmou o capitão equipe, José Higino Oliveira.

Espaço conquistado

Se impor como treinadora da seleção não foi tarefa fácil para Ana. No Parapan de Toronto 2015, ela era auxiliar. Aos poucos, foi conquistando espaço. “Foi um avanço muito grande. No começo, eu sentia que eu não tinha tanta credibilidade quanto o outro técnico. Quando a gente ia dar a mesma informação, se eu desse a informação e ele reforçasse, eu via que no momento que ele reforçava eles entendiam um pouco mais. Mas isso acho que é algo que a gente já conseguiu deixar no passado com essa equipe. Hoje eles me veem como técnica mesmo, acreditam no trabalho. De fora, o que eu sinto de outras equipes é que eles sempre partem do pressuposto de que o Manoel é o técnico e não a Ana. Não tenho problema com isso, mas é estranho. Por que sempre o homem é o comandante de um pelotão de homens?”.

Ela se apaixonou pelo rúgbi em cadeira de rodas quando estava na universidade, em Campinas. “Lá tinha um time e, quando vi um treino deles, o choque das cadeiras, me interessei. Eu era estagiária e os meninos me chamaram para montar um time independente. Eu virei preparadora física, fui estudando, estudando, e aos poucos fui ocupando o espaço. Virei técnica, acabei sendo convocada para a seleção, entregamos um projeto até as Paralimpíadas e estamos trabalhando nesse projeto”, contou.

A evolução da seleção brasileira mostra que o trabalho está no caminho certo. “A Ana e o Manoel (auxiliar técnico) trouxeram novos padrões de como um técnico atua com os atletas e valorizaram muito o coletivo. Se você vir qualquer jogo do Brasil, praticamente o banco inteiro entra para jogar. O grande legado que eles têm deixado é isso, o espírito coletivo, que a gente junto consegue mais. E a gente conseguiu. Subimos dez posições no ranking. Hoje a medalha escapou, mas logo em seguida tem mais”, disse José Higino. “O que a gente vai fazer é voltar, treinar e estudar. É a única certeza que a gente tem”, encerrou Ana Ramkrapes.  

Infográfico - Jogos Parapan-Americanos Lima 2019

Mateus Baeta, de Lima, Peru - rededoesporte.gov.br