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Atletismo

08/09/2016 15h16

Jogos Paralímpicos

O voo de Ricardo Oliveira para o topo do pódio: brasileiro é ouro no salto em distância

Em uma disputa emocionante, ele venceu a prova da classe F11 na última tentativa ao atingir a marca de 6.52m, superando o atual campeão e recordista mundial

Ouro - Ricardo Oliveira

O nome de Ricardo Oliveira foi mais uma vez anunciado no Engenhão. O público vibrou e o atleta se encheu de energia. Era a sexta e última tentativa na final do salto em distância da classe F11 (deficientes visuais) nesta quinta-feira (08.09), primeiro dia de competições de atletismo nos Jogos Paralímpicos Rio 2016. Ele não sabia, mas naquele momento Ricardo tinha 6.43m, enquanto o atual campeão mundial e recordista, o norte-americano Lex Gillette, estava com o ouro no peito por um centímetro (6.44m). Era preciso saltar como nunca. E Ricardo voou para o lugar mais alto do pódio. Saltou 6.52m para garantir o primeiro ouro do Brasil na competição.

“Acreditei que foi um bom salto a partir do momento que eu fiz a fase de voo. Geralmente, conto 1 e fecho a fase, e nesse último salto deu tempo de contar 1 e meio. Quando finalizei o salto eu senti que era o ouro se eu não tivesse queimado”, contou. “Estou emocionado, um momento que vou levar para o resto da minha vida. É algo incomparável”, resumiu.

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Ricardo Oliveira voa para o ouro: na última tentativa, brasileiro alcançou a marca de 6.52m e conquistou o título paralímpico no Engenhão. Foto: André Motta/Brasil2016.gov.br

A sede de vitória era grande e Ricardo queria garantir logo um bom salto. Ele queimou o primeiro e aquilo o incomodou. “Fiquei mais pilhado e pensei: ‘agora não vou errar mais’. E fui para cima”, contou. Na segunda tentativa, conseguiu 6.41m, a melhor marcada validada da carreira. Até o quarto salto, ele liderava a prova. Na quinta oportunidade, Lex Gillette saltou 6.44m e Ricardo fez 6.43m logo depois. Mas o brasileiro contou que não sabia esses números.

“Eu não me preocupo com os adversários, meus guias são orientados a isso. Concentro eu, meu guia e a prova.  Meu técnico (Everaldo Braz) disse: ‘Ricardo, você ficou em segundo’. Ele não falou ‘ele saltou x’. Ele disse: ‘Ricardo, você está a um centímetro de diferença’, mas não falou número nem nome, porque aí eu me concentro e coloco em prática o que vim para fazer”, explicou.

No salto em distância para os cegos, o silêncio é importante porque os atletas são orientados na execução do movimento. Mas assim que Ricardo fez o sexto salto, o público explodiu. “Fiquei muito emocionado, agradeço a todos os que torceram por mim, me ajudou muito e me deixou com aquela pegada de brasileiro”, afirmou o atleta, que ficou totalmente cego na adolescência em decorrência da doença de Stargardt.

Lex Gillette ficou com a quarta prata paralímpica consecutiva da carreira no salto em distância, com 6.44m. O bronze foi para o ucraniano Ruslan Katyshev (6.29m).

Aos 34 anos, Ricardo está apenas em sua segunda grande competição. Estreou no Mundial de Doha, em 2015, e ficou em quarto. O “quase” nos Emirados Árabes Unidos deu ainda mais estímulo para o Rio 2016. O sul-mato-grossense de Três Lagoas ainda vai disputar os 100m T11 neste sábado (10.09) e promete dar trabalho aos oponentes. Mas a maior expectativa da família a partir de agora não está em cima dele.

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Com a bandeira do Brasil, Ricardo comemora o primeiro ouro paralímpico da carreira. Foto: André Motta/Brasil2016.gov.br

 

Irmãos dourados?

O brasileiro tem duas irmãs que também são deficientes visuais. Uma delas divide com Ricardo a paixão pelo esporte. Atual campeã mundial na mesma classe do feminino, Silvânia Costa é a caçula e vai competir no dia 16 de setembro.

“Eu sempre quis ter um irmão, e a Silvânia, por ser a caçula e estar sempre do meu lado, preencheu esse espaço. Somos unidos, até no material de esporte. Eu comecei primeiro, chamei a Silvânia, ela foi melhorando e um foi incentivando o outro. A gente chegou aonde chegou através de superação e confiança”, contou.

Confiança não falta de que o próximo ouro paralímpico da família está próximo. Mas o primeiro já está garantido: o menino que, por causa da deficiência, viveu por tanto tempo isolado, sem querer sair de casa, viu no esporte a libertação e um estímulo para ir mais longe. Talvez não imaginasse que o voo mais alto seria tão perto de casa.

Carol Delmazo e Vagner Vargas - brasil2016.gov.br