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11/03/2018 03h50

Jogos Paralímpicos de Inverno

O dia em que Cristian Ribera virou "o cara"

Brasileiro que só teve três experiências na neve supera 22 dos 28 adversários, termina em sexto e alcança o melhor resultado da história do país em Jogos Olímpicos e Paralímpicos de inverno

Ele tem apenas 15 anos. É o mais jovem entre 570 atletas de 49 países nos Jogos Paralímpicos de PyeongChang. Disputou oficialmente só três competições de inverno na vida. Entrou na prova dos 15km do esqui cross-country sentado diante de 28 adversários que representam países com neve no quintal  corriqueiramente. Estreou numa prova de fundo, de 15km, em que normalmente os atletas ganham a resistência aeróbica de forma mais consistente depois dos 20 anos. E ignorou completamente todos esses fatores. Terminou a prova deste domingo, no Centro Esportivo de Alpensia, em sexto lugar. O resultado é o melhor já obtido por um atleta nacional na história dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Inverno. A referência anterior era o nono lugar obtido por Isabel Clark, do snowboard olímpico, nos Jogos de Torino, em 2006. A marca de Cristian é, ainda, a melhor de um sul-americano em Paralimpíadas de Inverno. 

Cristian durante a prova dos 15km no Centro Esportivo de Alpensia, em PyeongChang: antecipando etapas. Foto: Marcio Rodrigues/MPIX/CPB

Cristian Ribera impressionou muita gente. O locutor oficial da prova rapidamente achou uma etiqueta para defini-lo quando passava na frente das arquibancadas: "Lá vem a sensação brasileira". O técnico dele, Fernando Orso, definiu como espetacular, acima do esperado, a performance. "Não tem nem o que falar". O presidente da Confederação Brasileira de Desportos na Neve, Stefano Arnhold, falou em uma "progressão inesperada, que antecipou passos pensados para dois ciclos paralímpicos adiante".

"Para mim é como uma medalha. Uma sensação inesquecível. É como se fosse um primeiro lugar. Jamais pensei que seria tão bom assim"
Cristian Ribera

Espectadores de luxo, Elisabeth Cristina Rodrigues Leite e José Raimundo Leite, que moram no sul da Coreia do Sul, também ficaram impressionados e felizes ao descobrir, por acaso, que havia um brasileiro na prova. Um brasileiro que insistia em figurar entre os melhores em todas as parciais. E que treina em Jundiaí, a cidade de origem dos dois. "É muito improvável esse encontro aqui. Ficamos felizes demais. Estaremos sempre na torcida", afirmou Elisabeth.

Cristian, com uma bandeira brasileira no colo, em cima do trenó, ao fim da prova, só sorria. "Para mim é como uma medalha. Uma sensação inesquecível. É como se fosse um primeiro lugar. Jamais pensei que seria tão bom assim", disse o atleta, que ligou para a mãe assim que passou por um batalhão de entrevistas a emissoras estrangeiras interessadas em conhecê-lo. "Eu queria agradecer a ela por cada centavo gasto comigo".

Sexto lugar! Cristian Ribera conquistou o melhor resultado de um brasileiro na história dos Jogos de Inverno pic.twitter.com/ZBEBPfc5lc

— Rede do Esporte (@RedeDoEsporteBr) March 11, 2018

Nascido em Cerejeiras, em Rondônia, Cristian precisou mudar-se para São Paulo ainda bebê para tratar de uma artrogripose, doença que afeta suas articulações. Passou por 21 cirurgias. O esporte se agregou à sua rotina inicialmente como forma de fisioterapia, mas a experiência em modalidades como atletismo, natação, tênis e capoeira fez com que ele ganhasse um preparo atlético privilegiado.

A prova dos 15km é composta de cinco voltas num percurso de três quilômetros, com trechos de subida que totalizam 53 metros por volta, curvas acentuadas e descidas. Em uma delas, Cristian acabou sofrendo uma queda, o que lhe tirou segundos preciosos e a chance de terminar acima do top 5. "O trilho estava gasto. Escorreguei de lado na neve, mas consegui levantar e me recuperar na sequência", disse o atleta, que ainda disputa em PyeongChang as provas de média distância (7,5km), sprint (1km) e o revezamento.

O ouro nos 15km ficou com o ucraniano Maksym Yarovyi, que já tinha no currículo quatro títulos mundiais em diversas distâncias do esqui cross-country, além de uma prata e um bronze paralímpicos conquistados em Sochi, na Rússia (2014). A prata ficou com o norte-americano Daniel Cnossen e o bronze, para alegria dos torcedores locais, com o sul-coreano Sin Eui Hyun.

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Aline Rocha durante a prova dos 12km em PyeongChang. Foto: Marcio Rodrigues/MPIX/CPB

Aline quebra o gelo

"Foi punk, foi hard. Como teve a prova dos meninos antes, a neve ficou fofa, cheia de buracos. Cheguei a capotar uma vez, mas levantei rápido. No fim das contas, estou satisfeita. Fiz o meu melhor". Assim, com uma pontinha de frustração por ter ficado com a décima quinta posição, aquém do top ten que mirava, Aline Rocha definiu a sua estreia em Jogos Paralímpicos, na prova de 12 quilômetros, que reuniu 19 atletas.

"Foi punk, foi hard. Como teve a prova dos meninos antes, a neve ficou fofa, cheia de buracos. Cheguei a capotar uma vez, mas consegui levantar rápido. No fim das contas, estou satisfeita. Fiz o meu melhor"
Aline Rocha

Mas, diante do fato de ter se consolidado como a primeira mulher brasileira a participar de Jogos Paralímpicos de Inverno, a chateação arrefeceu. "Eu treinei muito, não foi fácil, mas é uma sensação incrível estar aqui e representar meu país, uma honra imensa", emendou a atleta.

Com o "gelo quebrado", ela espera conseguir se sentir mais à vontade nas provas de 1km (sprint) e de média distância (5km) que ainda tem pela frente na Coreia do Sul. "Ela estava com um esqui rápido, interessante, mas acabou perdendo ritmo nas subidas e nos falsos planos do percurso. Isso comprometeu o resultado. Vamos estudar e corrigir. Normalmente ela cresce ao longo das competições", afirmou o técnico Fernando Orso.

O topo do pódio teve uma bicampeã paralímpica em PyeongChang. No sábado, a americana Kendall Gretsch já havia conquistado o título no biatlo. Neste domingo, repetiu a dose nos 12km do cross-country. "Eu estava bem incerta em como me comportaria hoje, até pelo cansaço. Sabia que vinha melhorando bastante nas últimas Copas do Mundo, mas você nunca sabe com certeza como estará até começar a prova. Estou feliz demais pelo jeito como as coisas correram e por ter sido capaz de emplacar outra boa corrida". A prata ficou com a alemã Andrea Eskau e o bronze, com norte-americana Oksana Masters.

Gustavo Cunha, de PyeongChang, na Coreia do Sul, rededoesporte.gov.br