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03/08/2019 09h48

Lima 2019

Mosiah Rodrigues: "Apoio direto ao atleta é um pilar do sucesso esportivo de uma nação"

Com cinco pódios no Pan e uma participação olímpica como ginasta, coordenador do Bolsa Atleta se diz orgulhoso de ter aberto portas para a nova geração da modalidade e acredita que investimentos federais mudaram patamar do esporte nacional

Jogos Pan-Americanos Lima 2019

Poucas pessoas tiveram uma sensação de pertencimento histórico tão forte com a campanha inédita da ginástica artística brasileira nos Jogos Pan-Americanos de Lima quanto Mosiah Rodrigues. Um pertencimento que, primeiro, é de ordem esportiva. Foi a geração do ex-ginasta gaúcho, hoje, com 37 anos, que abriu as portas para a modalidade ser vista de forma mais competitiva no cenário mundial. Entre as edições de 2003 e 2007 do megaevento continental, conquistou um ouro, duas pratas e dois bronzes. Em 2004, representou o Brasil nos Jogos Olímpicos de Atenas e quase beliscou uma final.

Mosiah na Secretaria Nacional de Alto Rendimento do Ministério da Cidadania: ex-ginasta hoje atua no programa de fomento aos atletas. Foto: Francisco Medeiros/Min. Cidadania

Para além da face esportiva, contudo, Mosiah se sente conectado ao ambiente do Pan como gestor. O ex-atleta de 37 anos é o coordenador do Bolsa Atleta, programa da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania. Na campanha histórica da ginástica artística na capital peruana, nove dos dez atletas que conquistaram as 11 medalhas (quatro ouros, quatro pratas e três bronzes) são apoiados pelo governo federal. Um fenômeno que se repete com frequência em Lima. Das primeiras 47 medalhas nacionais, 41 vieram com bolsistas. Na delegação nacional, dos 485 originalmente inscritos, 333 estão no programa, num investimento anual de R$ 14,6 milhões. Para Mosiah, uma das múltiplas razões para a mudança de patamar do esporte nacional se conecta com o patrocínio individual promovido pelo programa, que atualmente contempla 6.199 atletas.

“O investimento  diretamente no atleta faz diferença. No alto rendimento falamos de detalhes. Nos Jogos de Atenas fiquei por um décimo e meio fora da final do cavalo com alças. Isso não é muita coisa. Se naquela época eu tivesse um recurso como o do Bolsa Atleta, se tivesse conseguido competir mais vezes fora do país, será que não teria sido melhor?"
Mosiah Rodrigues, ex-ginasta e coordenador do Bolsa Atleta

“O investimento feito diretamente no atleta faz diferença. No alto rendimento estamos falando de detalhes. Nos Jogos Olímpicos de Atenas, por exemplo, fiquei por um décimo e meio fora da final do cavalo com alças. Isso não é muita coisa. É detalhe. Se naquela época eu tivesse um recurso desses, se tivesse conseguido sair mais vezes do país, se tivesse competido mais vezes fora para que a arbitragem me reconhecesse mais, poderia ter sido melhor", disse. "Lá em 2004, a ginástica masculina brasileira ainda estava se apresentando ao mundo. Fui, vamos dizer, esse gatilho para ajudar a colocar o Brasil nesse cenário. Tenho consciência total disso e fico feliz com o papel que desempenhei. Mas será que não poderia ter sido um pouquinho melhor se tivesse um investimento como esse já naquele momento?”, afirmou.

Mosiah se lembra, inclusive, de um sentimento de frustração que se seguia aos bons resultados internacionais. “Eu me lembro do sentimento de voltar para casa e parecer que não tinha a quem recorrer para ter um investimento melhor e, quem sabe, resultados melhores. A minha sorte, e vale destacar isso, é que eu estava em um clube com estrutura, que dava amparo aos atletas”.

Na opinião do gestor, o horizonte atualmente é bem distinto. “O cenário hoje é totalmente diferente. Da minha geração, em 2007, por exemplo, uma coisa que tenho gravada na memória é ter saído do Pan do Rio com várias medalhas, ter sido campeão em casa, e não ter tido a possibilidade que o atleta tem hoje, de dizer: ‘Olha, tenho resultado e esse resultado merece ser reconhecido numa categoria X do Bolsa Atleta’. Hoje os atletas têm essa perspectiva”, completa Mosiah.

Equipe masculina campeã do Pan de Lima: herdeiros da geração de Mosiah. Foto: Pedro Ramos/rededoesporte.gov.br

Orgulho e felicidade

Indagado sobre o desempenho histórico da ginástica em Lima, Mosiah abre um sorriso e reflete antes de responder. “O primeiro sentimento é de orgulho. Felicidade, na verdade. A minha geração abriu um caminho e vou me usar para exemplificar essa linha do tempo. Eu fui responsável por recolocar o país no cenário olímpico. Antes da minha participação em Atenas 2004, nossa última participação tinha sido em 1992 (em Barcelona). A mesma coisa foi nos Jogos Pan-Americanos. A nossa geração colocou o Brasil no pódio em 2003 (em Santo Domingo) e depois disso o Brasil não saiu mais”, diz.

O ex-ginasta é direto quando perguntado se acredita ser possível que o Brasil alcançasse o patamar atual de excelência em Lima sem os apoios federais. “Sendo bem objetivo, não. Mas precisamos ser justos: o Bolsa Atleta, sozinho, não conseguiria fazer isso. Temos que enxergar que no esporte existem vários pilares que levam uma equipe ou um atleta ao sucesso. O Bolsa Atleta é um deles. Mas existem outros, falando aqui do campo federal, como equipamentos adquiridos para treinamento, o legado que veio dos grandes eventos, os treinadores que vieram de fora e aqueles que se qualificaram internamente. E, principalmente, todo o investimento, como a Lei Agnelo/Piva, a Lei de Incentivo ao Esporte, os convênios e o Bolsa Atleta. Esse investimento global ajuda demais nesse sucesso. Mas reforço: o apoio direito ao atleta é, senão o principal, um dos principais pilares que levam a esse sucesso de uma nação no esporte internacional”, encerra Mosiah Rodrigues.

Mosiah no Pan de 2007, no Rio de Janeiro: ouro, prata e bronze. Fotos: Ricardo Bufolin/CBG

Medalhas da ginástica artística em Lima

Ouro
- Equipe masculina
- Individual geral masculino – com Caio Souza
- Cavalo com alças - com Francisco Barreto
- Barra fixa – com Francisco Barreto

Prata
- Individual geral masculino – com Arthur Nory
- Barra fixa – com Arthur Nory
- Paralelas – com Caio Souza
- Argolas – com Arthur Zanetti 

Bronze
- Equipe feminina
- Individual geral feminino – com Flávia Saraiva
- Solo feminino – com Flávia Saraiva

Medalhas de Mosiah Rodrigues em Jogos Pan-Americanos

Ouro
Rio de Janeiro 2007 – Barra fixa

Prata
Santo Domingo 2003 –  Equipe
Rio de Janeiro 2007 – Equipe

Bronze
Santo Domingo 2003 – Barra fixa
Santo Domingo 2003 – Cavalo com alças

Luiz Roberto Magalhães - rededoesporte.gov.br