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Judô

05/10/2019 11h28

Grand Slam de Judô

Mariana Silva e Victor Penalber buscam, em Brasília, a reconquista de pontos e de protagonismo

Atletas estão de volta ao circuito internacional depois de disputarem os Jogos Olímpicos Rio 2016 e de sofrerem com uma sequência de lesões

Os dois tiveram a rara oportunidade de disputar uma edição de Jogos Olímpicos dentro de casa. No Rio de Janeiro, Mariana Silva (63kg) passou perto de subir ao pódio, mas foi derrotada na disputa pelo bronze. Já Victor Penalber (81kg), que havia se classificado como sétimo do mundo e cabeça de chave para o megaevento, foi surpreendido e eliminado nas oitavas. O momento mais difícil na carreira dos meio-médios, contudo, viria na sequência. Com sucessivas lesões, Penalber e Mariana viram outros brasileiros crescerem na categoria e o sonho de uma nova chance olímpica se afastar. Um quadro que esperam reverter a partir do Grand Slam de Brasília, com início neste domingo (6.10).

“Essa lesão realmente me pegou de surpresa. A primeira foi em julho de 2017, e aí fiquei oito meses me recuperando. Depois estourei o ligamento novamente. Foi um processo de dois anos afastada de campeonatos internacionais”, conta Mariana, submetida a três cirurgias no joelho – duas no ligamento cruzado anterior e outra de raspagem para conseguir retomar os movimentos completos da perna.

Em termos de ranking mundial, o preço foi caro. Mariana, agora com 29 anos, ocupa hoje a 89a colocação da categoria, atrás das brasileiras Aléxia Castilhos (28a ), Ketleyn Quadros (31a) e Yanka Pascoalino (70a).

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Mariana tem o desafio de superar outras três brasileiras no ranking mundial e de ficar entre as 18 melhores para a vaga olímpica. Foto: Abelardo Mendes Jr/ rededoesporte.gov.br

Situação semelhante vive Penalber, responsável por desbancar o duas vezes medalhista olímpico Leandro Guilheiro do posto de titular da seleção. De sétimo do mundo em 2016, um ano após a conquista de um bronze no Mundial de Astana, o carioca caiu para a 52a colocação e viu Eduardo Yudy Santos despontar, ocupando hoje o 24o lugar.

A primeira lesão de Penalber foi em fevereiro do ano passado, na cervical. “Fiquei quatro meses parado, voltei e, na primeira competição que fiz no circuito internacional, quando fui prata no Grand Prix de Cancun, rompi na final o cruzado do joelho. Foi uma cirurgia grande”, relembra. Recuperado, o atleta retornou às competições no mês passado, no Grand Prix Nacional, também em Brasília.

Agora, o Grand Slam terá significado especial para a dupla. Marca, ao mesmo tempo, uma retomada ao circuito internacional e um adeus à fase de lesões. “Estou feliz por ter me superado até aqui porque realmente foi uma luta grande. Eu acho que foi a luta mais difícil da minha carreira até hoje, e o meu sentimento de estar aqui, disputando um Grand Slam em casa, é de satisfação e felicidade imensas”, comenta Mariana, emocionada. “Pode ter certeza de que não vai faltar vontade, não vai faltar garra porque pela pior luta eu já passei”, completa.

“Voltar a competir no Brasil é uma felicidade enorme. Estou ansioso”, conta Penalber. “Agora é um novo desafio. É uma história totalmente diferente da que vivi no ciclo olímpico de 2016, e é uma história de superação. Não tem jeito, acho que a vida de atleta é superação, independentemente de machucados ou não, mas acredito que em lesões talvez seja o pior momento, porque a gente não consegue fazer o que a gente gosta”, pondera.

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Penalber fez apenas uma competição neste ano e retorna agora ao circuito internacional. Foto: Abelardo Mendes Jr/ rededoesporte.gov.br

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Corrida olímpica

Como não ocupam mais a liderança da categoria entre os compatriotas, Mariana e Penalber têm em Brasília uma chance especial de somarem pontos essenciais à corrida olímpica. Isso porque, na condição de país-sede, o Brasil pode convocar quatro atletas por peso para a competição, que vale mil pontos no ranking mundial. Com um bom resultado na capital federal, eles podem ser beneficiados com novas convocações para os próximos torneios, até a definição, em maio, das vagas para Tóquio 2020.

"Pode ter certeza de que não vai faltar vontade, não vai faltar garra porque pela pior luta eu já passei"
Mariana Silva

“Para ter a oportunidade de competir outros Grand Slams, eu preciso de resultado. Hoje existem meninas mais bem ranqueadas do que eu. O Grand Slam do Brasil, para mim, é uma grande oportunidade de realmente voltar à disputa da vaga olímpica”, acredita Mariana. “Agora é colocar em prática tudo o que vinha preparando e buscar o sonho porque, enquanto eu tiver 1% de chance, estou ali na luta, firme, forte e confiante”.

“Tudo é possível. Obviamente depende da performance nas competições, mas estou animado de voltar a competir e fazer aquilo de que gosto. Quando estou feliz no tatame, bem treinado, aumenta a chance de tirar uma medalha, de fazer pontuação alta e de voltar a subir no ranking para buscar a vaga para Tóquio”, acredita Penalber.

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Duas Olimpíadas em casa

Caso consiga a classificação para os Jogos do Japão, Mariana Silva viverá a sensação de lutar duas edições consecutivas de Olimpíadas “em casa”. Isso porque a atleta morou durante cinco anos no país asiático, durante o Ensino Médio e os dois primeiros anos da faculdade de educação física, em um intercâmbio motivado pelo judô, vivendo com uma família de japoneses. Em troca da bolsa de estudos e dos custos para se manter por lá, Mariana lutava pela escola.

“Seria maravilhoso lutar uma Olimpíada onde morei por cinco anos e entendi realmente a filosofia do judô, aprimorei minhas técnicas, passei as maiores experiências, evoluí como pessoa, como atleta. Sou muito grata àquele país, àquelas pessoas. Seria para mim uma honra, um privilégio”, adianta a judoca que se inspirou em outros nomes para perseguir o sonho do pódio olímpico.

“Desde os 10 anos, mesmo não sabendo o que era uma Olimpíada, eu vi o Tiago Camilo e o Carlos Honorato ganhando medalhas de prata em Sydney. A partir dali floresceu algo forte no meu coração. O meu desejo, o meu sonho é a medalha olímpica e, como cheguei muito perto, quero ainda ter a oportunidade de sentir o gosto de conquistar essa medalha”, conta.

“Hoje, mais madura, vejo também que o esporte não é somente a medalha”, continua, relembrando o significado da conquista do ouro olímpico por Rafaela Silva em 2016, quatro anos após a desclassificação da judoca em Londres. “Eu vejo que nós, atletas, temos essa responsabilidade de transformar vidas. A gente pode servir de inspiração. Alguém pode estar caído e de repente pensar: ‘cara, a Mariana passou por três cirurgias e mesmo assim conseguiu estar na Olimpíada, conseguiu uma medalha olímpica, então eu também posso conquistar o meu sonho’. O esporte é muito além de medalha. Ela é a cerejinha do bolo”. 

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Delegação brasileira em Brasília: 56 atletas convocados. Foto: Abelardo Mendes Jr/ rededoesporte.gov.br

A competição

O Grand Slam de Brasília tem início neste domingo (6) e segue até terça-feira (8), no Centro Internacional de Convenções do Brasil (CICB). A entrada é franca, mediante lotação do espaço, com as preliminares sempre a partir das 10h e as finais, às 16h. São 347 atletas inscritos, de 60 nações. O evento terá transmissão televisiva para mais de 120 países

A seleção brasileira será representada por 56 atletas, sendo que 36 fazem parte do programa Bolsa Atleta da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania. O investimento mensal no grupo é de R$ 133.275, totalizando quase R$ 1,6 milhão por ano. Os investimentos federais também foram cruciais para a realização do evento. Por meio da Lei de Incentivo ao Esporte, foram captados R$ 2 milhões pela Confederação Brasileira de Judô (CBJ). Outros R$ 3 milhões vieram por emendas parlamentares.

Esta é a quinta vez que o país sedia uma etapa de Grand Slam de judô, sendo o primeiro fora do Rio de Janeiro. Nas quatro edições anteriores, o Brasil conquistou, ao todo, 61 medalhas

Galeria de fotos (imagens disponíveis em alta resolução. Uso editorial gratuito)

Grand Slam de Judô Brasília 2019

Ana Cláudia Felizola – rededoesporte.gov.br