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Judô

27/05/2018 22h25

Cochabamba 2018

Larissa, a menina "difícil" que faturou o primeiro ouro do Brasil

Atleta de 19 anos, que começou no judô para "se defender" dos irmãos e odiava competir, passa por todas as rivais e faz o hino do Brasil tocar pela primeira vez em Cochabamba

Jogos Sul-Americanos Cochabamba 2018

A paulista Larissa Pimenta não é do tipo fácil. Na infância, no litoral paulista, vira e mexe se envolvia em brigas com os dois irmãos mais velhos. Em geral, levava a pior. E o tal do judô era a ferramenta que a dupla recorria para "imobilizar" a pequena. De tanto reclamar, a mãe sugeriu que fosse treinar. Ao oito anos, procurou a modalidade, numa escola pública em São Vicente (SP). Mas durou pouco. Foi temporariamente expulsa. "Eu bagunçava muito. Não levava a sério. Conversava demais, dava cambalhotas. O professor não gostava. Aí tive de ficar um tempo sem treinar", recorda a atleta da categoria -52 quilos, hoje com 19 anos.

Ficou uns meses de castigo, só assistindo. Quando voltou a treinar, logo apresentou outro desafio ao treinador. "Eu tinha um problema. Não queria competir. Não gostava daquela adrenalina", recordou. Essa era a versão oficial, na verdade. A mais honesta era outra: "É, eu odiava perder. Só queria lutar se pudesse ganhar. Por isso, fiquei até os 11 anos sem competir".

Larissa comemora o ippon sobre a peruana Thalia Gamarra no Golden Score para conquistar o ouro. Foto: cochabamba2018

A pausa, no fim das contas, foi boa para ela, para o técnico e para o judô nacional. Larissa se tornou competitiva, conquistou títulos escolares, nacionais, cruzou a fronteira para subir ao pódio em etapas de campeonatos fora do país em categorias de base e mereceu a vaga no time Sub-23 que representa o Brasil nos Jogos Sul-Americanos de Cochabamba, na Bolívia. Fiel ao mantra de não curtir perder, enfileirou adversárias no Coliseu José Villazón e volta para o Brasil com o primeiro ouro conquistado pela delegação nacional na Bolívia.

"Estou feliz demais por essa medalha. Nem sabia que era a primeira. Acho que serve para me motivar ainda mais e motivar os outros que ainda vão competir", afirmou a atleta, que confessou ter sentido um bambear de pernas na primeira vez que se aproximou do tatame do megaevento, que é suspenso, como costuma ser nos Jogos Olímpicos.

"Na hora em que estava entrando pela primeira vez, quando vi o tatame alto, a escadaria, eu imaginei como se fosse uma Olimpíada mesmo. As pernas bambearam de verdade. Mas é uma sensação incrível", afirmou Larissa, que pela primeira vez representou o Brasil numa competição sênior, e agora quer ampliar o cardápio de megaeventos. Na decisão do ouro, contra a peruana Thalia Gamarra, os efeitos da altitude foram um adversário adicional.

Premiação da categoria até 52kg, com Larissa no topo do pódio. Foto: Gustavo Cunha/rededoesporte.gov.br

"Senti um cansaço extraordinário. Estamos nas montanhas, né?. Deu um minuto de luta e pareciam dez. Tive de manter a cabeça boa para aguentar até o fim. Se você fica pensando que "vai morrer no gás, morre mesmo", brincou. No tempo regulamentar, as duas terminaram em igualdade. "No fim, eu só conseguia pensar que precisava fazer algo mais, algo diferente, e deu certo. Consegui jogar ela de ippon", celebrou. Antes da decisão, Larissa havia superado Ayelen Elizeche, da Argentina, e Kristine Jimenez, do Panamá.

"É muito bom ver essa nova geração já mostrando toda essa capacidade, esse potencial. Acho que temos um futuro brilhante para a modalidade pela frente", afirmou o campeão mundial Luciano Correa, agora na função de chefe de equipe da delegação de judô. "Está sendo fantástico. Estou feliz e grato por contribuir com o esporte brasileiro em uma outra função".

Gustavo Cunha, de Cochabamba, na Bolívia - rededoesporte.gov.br