Kayla Harrison: “Quando acho que já fiz o suficiente, penso na Mayra e faço mais”
No universo esportivo, é comum que, entre tantos adversários em uma trajetória, um deles se destaque como o grande algoz a ser derrubado. Para a judoca brasileira Mayra Aguiar (-78kg), o alvo tem nacionalidade, nome e sobrenome: a norte-americana Kayla Harrison. E derrubá-la é um de seus maiores objetivos desde os tempos de juvenil.
Os confrontos entre as duas são tão intensos que o objetivo de derrotar Mayra Aguiar acabou se convertendo em estímulo extra aos treinamentos da americana. “É claro que sempre quero vencer. Eu odeio perder, mas sei que a Mayra é uma grande competidora, uma grande judoca, com um judô bonito. Ela é inteligente, técnica e sempre me motiva a treinar mais. Quando penso em desistir, parar ou quando acho que talvez já tenha feito o suficiente, penso nela e sei que preciso fazer mais”, conta Kayla Harrison.
A despeito dos embates nos tatames, Kayla acredita que, no futuro, ambas terão grandes recordações. “Acho que isso é bonito porque hoje somos grandes rivais, mas talvez, em 10 anos, nós duas sejamos técnicas e percebamos que compartilhamos os melhores dias de nossas vidas. Nós temos a oportunidade de viver o sonho, viajar o mundo, conhecer lugares incríveis, lutar contra pessoas muito boas. Então eu sinto que compartilhamos algo”, analisa a campeã olímpica.
Kayla foi uma das estrelas do Treinamento Internacional de Judô em Saquarema (RJ), realizado no Centro de Desenvolvimento de Voleibol (CDV) até o último dia 7 – uma nova oportunidade que teve de reencontrar Mayra, mas fora de competição. “Treinar com ela é difícil, nem sempre sai como eu gostaria. Ela é forte”, comenta a americana.
Artimanhas
“A Mayra é extremamente competitiva com a Kayla, então não consigo fazer com que ela experimente algumas coisas nos treinos. O que faço é pegar atletas brasileiras de outras categorias e pedir para treinar com a Kayla da forma que quero ver a Mayra fazer. Assim criamos uma estratégia”, explica o gestor de Alto Rendimento da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), Ney Wilson. Em Saquarema, cerca de dez treinadores acompanharam cada sessão de treinos dos atletas brasileiros.
Também participante do treinamento no CDV, mas com mais limitações devido a uma lesão no joelho, Audrey Tcheuméo foi mais uma a reconhecer a força da brasileira que a deixou com a prata após a decisão do Mundial de Chelyabink. A francesa, no entanto, prefere aumentar seu leque de adversárias. “Eu acho que na categoria há muitas garotas perigosas, como as japonesas. A Aguiar é ótima, mas todas são perigosas”, opina a atual líder do ranking mundial, única à frente da brasileira.
Para não se abalar diante das rivais, Mayra Aguiar tem uma estratégia diferente: prefere não pensar tanto nelas em seu dia a dia. “Claro que existe um estudo para cada uma, um jeito diferente de lutar, mas penso muito em mim, no que tenho que fazer, no que está certo ou errado, no meu descanso, no meu treino, na minha rotina. Se pensar só nelas, enlouqueço. Imagina dormir pensando em adversária? Não gosto disso”, brinca a gaúcha. “Claro que durmo e acordo pensando em Olimpíada e Mundial, mas é mais uma luta interna mesmo”, assegura.
