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Lutas

17/07/2015 00h59

Toronto 2015

Em dia histórico, Brasil é ouro e bronze na luta olímpica

Joice Silva emociona a torcida e conquista a primeira medalha dourada da história da modalidade em Jogos Pan-Americanos. Estreante na competição, Davi Albino sobe ao pódio

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Joice nos braços dos torcedores Chapolins, que acompanham os brasileiros em vários ginásios pelo Pan. Foto:Tony Rotundo/United World Wrestling

 Os atletas da luta olímpica do Brasil estrearam nesta quinta-feira (16.07) nos Jogos Pan-Americanos de Toronto no Mississauga Sports Centre. O local é o mesmo onde os judocas brasileiros faturaram 13 medalhas (5 ouros, duas pratas e seis bronzes) nos quatro dias da modalidade, encerrados na última terça-feira (14.07).

Coincidência ou não, trata-se de um ponto que traz energias incríveis para os brasileiros. Se na estreia do judô a brasiliense Érika Miranda fez história ao conquistar a primeira medalha de ouro da categoria meio leve feminino em Jogos Pan-Americanos para o Brasil, dessa vez a carioca Joice Silva foi além. Em uma noite inspirada, a carioca derrotou a cubana Yakelin Estornell na decisão e, para delírio da torcida brasileira no estádio, fez história ao faturar a primeira medalha dourada do país em Jogos Pan-Americanos na luta olímpica, em qualquer categoria, entre homens ou mulheres.

Sem conter as lágrimas, Joice ouviu o Hino Nacional, viu a bandeira brasileira hasteada e, depois, revelou o que passou por sua mente ao viver tudo aquilo. “Eu estava me vendo realizada ali. Foi uma imagem que eu já vi passando na minha cabeça muitas vezes. Estava realizando um sonho”, disse Joice, contemplada com a Bolsa Pódio.

Quatro atletas do país entraram em ação nesta quinta-feira. A primeira a lutar pelas quartas de final foi Giullia Rodrigues, na categoria 53kg do estilo livre (único na luta olímpica feminina). Ela estreou contra Luisa Valverde, do Equador, e as duas travaram uma disputa equilibrada, que terminou com vitória da rival pelo placar de 5 x 4. Como Luisa não avançou à decisão, a brasileira acabou sem chances de brigar pelo bronze.

Pela categoria 48kg, Kamila Barbosa também não teve sorte. Nas quartas de final, enfrentou a cubana Yuzney Gusman e a oponente superou a brasileira pelo placar de 15 x 4. Como a cubana também não chegou à final, o resultado selou o fim do Pan para Kamila. Mas as eliminações pararam por aí. Depois disso, vieram as medalhas...

Foto: Comitê Olímpico do Brasil

Bronze na estreia

Único representante do Brasil no estilo greco-romano em Toronto e estreante em Jogos Pan-Americanos, o paulistano Davi Albino, que recentemente foi indicado para a Bolsa Pódio, fez seu primeiro combate na categoria 98kg diante do canadense Jemery Latour nas quartas de final. O brasileiro protagonizou uma bela luta e venceu pelo placar de 10 x 1. Na semifinal, ele se encontrou com o cubano Yasmany Lugo, ouro no Campeonato Pan-Americano de Luta Olímpica em 2014. Lugo foi superior e triunfou por 8 x 0, tirando de Davi o sonho de brigar pelo ouro.

Albino, então, partiu para a disputa do bronze, diante do colombiano Oscar Loango, e, por 5 x 1, garantiu mais uma medalha para o Brasil. Um comentário geral em Toronto é que as medalhas do Pan, além de muito bonitas, são pesadas. Algo que não incomodou em nada o brasileiro.

“Essa medalha é linda. E ela podia pesar uma tonelada que eu iria estar carregando nos braços mesmo depois de três lutas duras”, brincou. “É a minha primeira medalha em Jogos Pan-Americanos. Cada medalha tem um gosto especial, mas essa aqui tem um gosto muito bom por eu a ter obtido em cima de um atleta para quem eu já tinha perdido”, comemorou Albino, referindo-se a Loango, que o derrotou em 2013, na disputa do bronze dos Jogos Sul-Americanos, em Santiago.

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Foto: Comitê Olímpico do Brasil
Viradas douradas

Foram três lutas e três viradas. A campeã pan-americano Joice Silva, da categoria 58kg, bronze nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara 2011, ouro no Campeonato Pan-Americano deste ano, foi a última atleta do Brasil a lutar nas quartas de final. Ela enfrentou a mexicana Alejandra Romero e, de virada, venceu por 2 x 1, assegurando a vaga para a semifinal.

Na briga por um lugar na decisão, a brasileira se deparou com a peruana Yanet Sovero, prata no Campeonato Pan-Americano de 2014 e bronze no Campeonato Pan-Americano de 2015. Sem se intimidar, Joice saiu perdendo por 2 x 0, mas, ao final, de virada, assegurou a vitória por 5 x 3. Com isso, a primeira medalha da noite, no mínimo de prata, já estava garantida para o Brasil.

Só que o desfecho dessa história reservava mais para Joice. Sua luta pelo ouro foi a última da quinta-feira, quase à meia-noite, no horário de Brasília. A rival foi a cubana Yakelin Estornell, ouro no Campeonato Pan-Americano de 2013 e bronze no Campeonato Pan-Americano de 2014.

Para os brasileiros no ginásio e que acompanhavam pela televisão, o início da final foi tenso. Joice saiu perdendo por 5 x 0. Mas a noite era dela. Assim como fez nas quartas de final e na semifinal, ela virou o placar e, de forma heróica, chegou ao topo do pódio por 6 x 5.

“Eu não me preocupei com o placar. Eu só estava pensando: ‘Eu tenho que marcar um, e mais um, e mais um... Eu tenho que virar’”, revelou. “Na verdade eu não senti o peso do 5 x 0, não”, garantiu. Depois, ela fez questão de agradecer a todos que a ajudaram chegar ao ouro. “Tem tanta gente, né? A gente não luta sozinho, nossa caminhada tem tanta gente ajudando: os meus amigos de treino, a minha família, a minha mãe que me apoia. Acho que principalmente a minha mãe, Sônia, que é minha maior torcedora”, enumerou.

Os próximos desafios de Joice, Davi e da Seleção Brasileira será o Campeonato Mundial de Las Vegas, em setembro, quando todos tentarão conquistar a vaga para os Jogos Olímpicos de 2016.

Nesta sexta-feira (17.07), o Brasil tem mais uma chance de conquistar o ouro com Aline Ferreira. Representante da categoria 75kg, a brasileira fez história no ano passado, quando foi vice-campeã mundial. Em 2011, no Pan de Guadalajara, ela conquistou a prata. Entretanto, a disputa pela segunda medalha dourada em Toronto reserva uma parada duríssima para Aline. A rival na estreia, às 16h47 (horário de Brasília, 15h47 em Toronto) é a norte-americana Adeline Gray, campeã mundial em 2014. O confronto, portanto, é uma reedição da final do Mundial do ano passado.

Investimentos

Em crescimento no Brasil, tanto que o país conquistou, com Aline Silva, o título de vice-campeão mundial em 2014 e agora chegou ao ouro no Pan, as lutas associadas têm recebido grande investimento do governo federal. A modalidade conta atualmente com 213 contemplados com a Bolsa-Atleta ou a Bolsa Pódio, fruto de um investimento anual de R$ 2,75 milhões. Entre 2010 e 2014, sete convênios com a Confederação Brasileira de Lutas Associadas (CBLA) repassaram R$ 14 milhões para serem aplicados na preparação dos atletas e, em 2014, mais R$ 1,8 milhão foram aplicados no esporte, via Lei Agnelo/Piva.

Davi Albino, que credita muito de seu sucesso ao apoio que recebeu no início da carreira com o Bolsa-Atleta, agradeceu a todos que o ajudaram na carreira, inclusive o técnico Joanilson Rodrigues, o primeiro que o treinou e responsável por colocar o esporte em sua vida. “Por vários anos eu fui me mantendo somente com a Bolsa-Atleta, que antigamente era R$ 750.  Isso ajuda muitos atletas a não desistir. Uma coisa pequenininha mantém um atleta por um, dois, três anos e até a vida inteira com ele sempre tentando buscar algo mais. Eu comecei com R$ 750, passei para a Bolsa-Atleta Internacional, que era R$ 1.850 e hoje eu sou Bolsa Pódio, que ainda nem sei quanto vou ganhar. Estou sempre evoluindo, sempre buscando mais”.

O mesmo ocorre com Joice Silva. Indagada sobre a importância do apoio do governo federal, a campeã pan-americana foi direta: “Para mim a importância é total. Hoje treino pelo Bolsa Pódio, que é do governo, e a Marinha do Brasil. Eu não tenho clube no Rio de Janeiro. Então, essas são as minhas fonte de renda e pagam as minhas viagens, e também a Caixa Econômica, através da Confederação. Eu não tenho patrocinador direto e se não fosse isso não daria para a gente estar lutando de igual para igual com potências. Eu tenho muita honra e muito orgulho de dizer que sou militar, sou da Marinha, sou Caixa, sou Brasil e Ministério do Esporte”.

Luiz Roberto Magalhães, de Toronto – brasil2016.gov.br