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Tenis de mesa paralímpico

11/09/2016 17h16

Tênis de Mesa

Israel Stroh vence semifinal e se torna o primeiro medalhista brasileiro em simples no tênis de mesa

Atleta bateu o chinês Shuo Yan no tiebreak e garantiu vaga na decisão contra o britânico William dohn Bayley, nesta segunda. Bruna Alexandre e Danielle Rauen vão disputar o bronze

Quatro match points: 10 x 6 no quinto set de uma semifinal paralímpica diante do chinês Shuo Yan. O saque na mão. E um Déjá Vu visitou a mente de Israel Stroh, atleta da Classe 7 do tênis de mesa. Ainda que ele não quisesse, voltaram à mente alguns momentos da preparação em que ele teve jogos importantes na mão e deixou escapar. E a sina parecia se repetir. O chinês fez os dois pontos nos serviços de Stroh. Sacou e Stroh errou a recepção: 10 x 9. A torcida empurrou, gritou, animou o ambiente no Pavilhão 3 do Riocentro. E, desta vez, não houve rateada, não houve mão pesada que impedisse Israel de fazer história. A vitória por 3 sets a 2 levou o tênis de mesa brasileiro pela primeira vez a uma final de um torneio paralímpico individual.

"Ainda estou tentando administrar tudo o que aconteceu. Foi um baita jogo. Nesse circuito até a Paralimpíada, perdi muitas partidas em que tinha chance real. No Aberto do Chile, ano passado, joguei com o francês que era sexto do mundo, estava 10 x 5 para mim e ele virou. Quando chegou neste momento aqui, pensei: 'Você aprendeu com aquele jogo. Então, quando estava 10 x 9, claro que fiquei nervoso, o braço pesou, mas eu continuava pensando: não vou perder, aquela derrota tem de ter servido. Acho que serviu", sorriu, ainda tentando dimensionar o tamanho do que acabara de conquistar.

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Israel Stroh celebra a vitória histórica, que leva o tênis de mesa nacional à primeira final individual da história. Foto: ITTF

"Acho que ainda não tenho essa noção. Procuro não pensar demais. Acho que as coisas estão indo bem enquanto a gente leva como um jogo de tênis de mesa qualquer, embora não seja. Procuro ser o mais frio possível, calculista na parte tática. Raramente você vai me ver olhando para a torcida, embora a torcida venha firme e seja importante. Acho que essa é uma das minhas armas: tentar esquecer toda a dimensão que tem, embora muitas vezes não consiga", disse Israel. O tênis de mesa paralímpico brasileiro tem uma prata na bagagem, mas por equipes, conquistada por Welder Knaf e Luiz Algacir nos Jogos de Pequim, em 2008. 

"Eu cheguei aqui tendo cumprindo todas as etapas do que me programei, de treinos, classificação e preparação. Quando estreei vencendo o primeiro do mundo, pensei que dava para ir longe. Se vai acontecer ou não de ser ouro, a gente vai ver amanhã
Israel Stroh

A decisão, a partir das 10h45 desta segunda-feira, vai ser uma revanche para o britânico. No jogo de abertura da fase da grupos, Israel conseguiu um primeiro feito impressionante no Rio de Janeiro: derrotou por 3 sets a 1 o atual líder do ranking mundial, William dohn Bayley, vice-campeão paralímpico em Londres e vencedor do último Mundial da categoria, em 2014. O inglês passou à decisão eliminando o espanhol Jordi Morales Garcia por 3 sets a 1 (11 x 13, 11 x 1, 11 x 3 e 15 x 13).

"Eu cheguei aqui tendo cumprindo todas as etapas do que me programei, de treinos, classificação e preparação. Quando estreei vencendo o primeiro do mundo, pensei que dava para ir longe. Se vai acontecer ou não de ser ouro, a gente vai ver amanhã, mas quando ganhei dele pensei que tinha chances. Dei uma tropeçada contra o chinês que é décimo do mundo, mas depois tive duas duas vitórias seguidas contra os ucranianos terceiro e segundo do mundo. Agora, o chinês que é o quinto. São vitórias que me credenciam e me fazem acreditar", disse Stroh.

Um dos fatores que pesaram na possibilidade de Israel brigar por melhores resultados foi a reclassificação funcional, ocorrida em março do ano passado, no Aberto da Hungria. "A Classe 8 era complicada para mim pela questão física. Agora estou na classe que julgo ser correta. Consegui ganhar de jogadores que já ganharam medalhas", disse Israel, que tem parte dos movimentos dos braços e pernas comprometidos por uma paralisia cerebral ocorrida por falta de oxigenação no parto.

Para chegar à decisão desta segunda com todas as ferramentas para brigar pelo ouro, Israel planejava dar uma segurada na ansiedade de olhar redes sociais e noticiários para não deixar se envolver pelo resultado histórico conquistado neste domingo.

"Tivemos uma estrutura que nos deixou capaz de chegar aqui e fazer um bom resultado. O CT de São Paulo é um dos melhores do mundo. Se passarmos a usar diariamente lá acho que talvez não em Tóquio, mas em 2024, o Brasil chegue ao top 3 do ranking mundial na Paralimpíada. Vai fortalecer muito quem já está no grupo e muita gente vai querer sonhar entrar"
Israel Stroh

"Vou tentar não olhar redes sociais, WhatsApp, ler um livro, dar uma desfocada, mas sei que vai dar meia hora e vou pegar o celular para ver o que o pessoal está falando, escrevendo, vou botar no Google e ver o que vão escrever. Vou tentar dosar para não entrar em euforia", disse o atleta, que já se preparava para acalmar familiares presentes ao Riocentro. "Vou já já falar com eles. Meu pai, minha mãe, minhas duas irmãs, dois sobrinhos. Todo mundo deve estar chorando. Vou socorrer todo mundo daqui a pouco", brincou.

Estrutura

Para o mesatenista de Santos (SP), a estrutura que a equipe brasileira teve à disposição durante este ciclo paralímpico e, principalmente, a finalização do Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo, são diferenciais importantes tanto para permitir os resultados inéditos alcançados no Rio quanto para projetar uma futuro em que o Brasil seja ainda mais protagonista. 

"O Ministério investiu mais nesse ciclo. Houve problemas, como são naturais, mas tivemos uma estrutura que nos deixou capaz de chegar aqui e fazer um bom resultado. O Centro de Treinamento de São Paulo é um dos melhores do mundo. Não tem melhor. Pode ter alguns iguais. Nós conversamos internamente. Se passarmos a usar diariamente lá, com as condições de lá, acho que talvez não em Tóquio, mas em 2024 o Brasil chegue ao top 3 do ranking mundial na Paralimpíada, porque vai fortalecer muito quem já está no grupo e muita gente vai querer entrar, muita gente vai sonhar em trabalhar lá e usar tudo o que tem de estrutura".

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Bruna Alexandre se prepara para o saque contra Natalia Partika. Uma maratona de 47 minutos definida em cinco sets a favor da polonesa. Foto: André Motta/Brasil2016.gov.br

Bruna bate na trave

A missão era ingrata. Do outro lado da mesa estava uma tricampeã paralímpica, tricampeã mundial e octagésima colocada no ranking dos atletas olímpicos. Natalia Partika, da Polônia, é uma quase lenda do tênis de mesa paralímpico da Classe 10. Chegou à semifinal no Rio, assim como havia feito em Londres, Pequim e Atenas, sem perder um set. Pois Bruna Alexandre fez uma partida para descartar estatísticas e favoritismos. Impôs seu jogo, chegou a abrir 2 sets a 1 e levou a disputa ao tiebreak. No fim, vitória da polonesa no set de desempate por 11 x 8, mas a certeza de que a brasileira está na trilha correta.

"Consegui abrir 2 a 1, mas errei bolas fáceis, e ela não erra. Foi isso que fez diferença ali no 2 x 2. Ela tem uma consistência que não muda. De qualquer forma, saio contente"
Bruna Alexandre

"Acho que fiz o possível. Consegui abrir 2 a 1, mas errei bolas fáceis, e ela não erra. Foi isso que fez diferença ali no 2 x 2. Ela tem uma consistência que não muda. De qualquer forma, saio contente. Joguei três vezes com ela. Na primeira não tive qualquer chance. No Mundial de 2014, joguei melhor, mas hoje realmente vejo que tenho chances. Tô feliz por isso. Os quatro anos que treinei em São Caetano fizeram diferença. Consegui provar na mesa", afirmou Bruna Alexandre, ainda sob o impacto dos 47 minutos de uma partida incrivelmente parelha.

"A Bruna jogou muito bem, estava super preparada e estava relaxada no início, porque não tinha nada a perder. Ela tentou o melhor dela e fez super bem. No início eu estive pressionada e tive problemas sérios com a recepção. Mas finalmente, quando estava perdendo por 2 sets a 1, pensei comigo: 'ok, se eu perder, perdi, nada acontece'. Com isso, consegui tirar de mim a pressão e as coisas começaram a acontecer de forma mais natural. Foi um passo importante para conseguir a virada e vencer", avaliou Natalia Partika, que vai repetir no Rio a final de Londres, contra a chinesa Qian Yan.

Bruna, por sua vez, vai disputar o bronze com a dinamarquesa Sophie Walloe, quinta colocada no Mundial de Pequim, em 2014. "Quero estar num nível muito bom, como hoje. Já jogamos umas três vezes. Consegui vencê-la. É um jogo mais aberto para mim, um estilo que encaixa, me deixa confortável", disse Bruna. A disputa do bronze será na terça-feira, a partir das 18h45.

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Danielle Rauen perdeu para a chinesa Lina Lei e agora se prepara para a disputa do bronze. Foto: CPB

Danielle também na briga

Danielle Rauen foi outra brasileira nas semifinais deste domingo. Diante da chinesa Lina Lei, a brasileira não conseguiu imprimir seu estilo e acabou superada por 3 sets a 0, parciais de 11 x 1, 11 x 5 e 11 x 8. Lina Lei soma nada menos que cinco ouros paralímpicos, três na chave individual e dois por equipe na Classe 9.

"Para a disputa do bronze, agora vou ver alguns jogos dela, ver o que ela faz. Quando chegar no jogo, até quando ela piscar eu vou saber o que fazer"
Danielle Rauen

"Fiz o que era para fazer e o que tenho para dar. Tive muita dificuldade de pegar o saque dela nos primeiros sets e não estava conseguindo acompanhá-la bem. Depois, no terceiro, comecei a entrar no jogo, mas já era tarde. Já sabia que seria difícil. Ela é a primeira do mundo e não é por menos", afirmou Danielle, que chegou ao Rio como oitava colocada do ranking, conseguiu a vaga na semifinal e agora vai disputar o bronze. A adversária será a polonesa Karolina Pek, de quem Danielle perdeu, na fase de grupos, por 3 sets a 1

"Agora vou ver alguns jogos dela, ver o que ela faz. Quando chegar no jogo, até quando ela piscar eu vou saber o que fazer. O fato de já termos jogado ajuda para eu estudar melhor e saber como conseguir pontos de outras formas. Agora é colocar a cabeça no lugar, não se deixar abater e vir firme para o bronze", disse Danielle. A disputa será na terça-feira, dia 13, a partir das 16h45.

Gustavo Cunha, brasil2016.gov.br