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Toronto 2015

13/07/2015 12h00

Toronto 2015

Canoagem brasileira conquista mais quatro medalhas no Canadá

Isaquias foi campeão na prova olímpica do C1 1000m e prata no C2 1000m, ao lado de Erlon Silva. Medalhas de bronze no K2 1000m, com Celso Júnior e Vagner Souta, e no K1 500m, com Ana Paula Vergutz

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Depois da medalha de prata conquistada no domingo (12.07) na prova K4 1000 metros, com Gilvan Ribeiro, Celso Júnior, Roberto Maehler, Vagner Souta, o Brasil chegou, nesta segunda-feira (13.07), a mais quatro pódios na canoagem velocidade dos Jogos Pan-Americanos de Toronto. No Wellland Flatwater Centre, os brasileiros faturaram um ouro, uma prata e dois bronzes.

Nascido em Ubaitaba, na Bahia, e revelado pelo Projeto Segundo Tempo, do Ministério do Esporte, Isaquias Queiroz não deu chances ao seu principal rival, o canadense Mark Oldershaw, medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Londres 2012. Com o tempo de 4min07s866, Isaquias, 21 anos e dono de quatro medalhas em Campeonatos Mundiais, superou o canadense, que cruzou a linha de chegada em 4min09s587. O bronze ficou com o mexicano Jose Cristobal.

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Isaquias, ouro na canoagem em Toronto. Foto: Sergio Dutti/Exemplus/COB
“É um orgulho muito grande levar esse primeiro ouro da canoagem. Espero que venha mais ao longo desse dia”, afirmou Isaquias, que não se surpreendeu com a vitória sobre o canadense medalhista olímpico.

“Eu sabia que podia ganhar porque já vinha de vitórias para cima dele em etapas da Copa do Mundo e no Mundial. Agora vêm os próximos campeonatos, como o Mundial (em Milão, na Itália, entre 19 e 23 de agosto) e focar para 2016, pois o importante é a medalha olímpica para o Brasil”. O currículo recente aponta para boas perspectivas. Isaquias, que é contemplado com a Bolsa Pódio, foi ouro na categoria C1 500m (não olímpica) no Mundial em Duisburg, na Alemanha, em 2013; e em Moscou 2014; e bronze no C1 1.000m em 2013 e no C1 200m, em 2014.

Sem tempo para comemorar a conquista individual, Isaquias voltou à ação cerca de uma hora depois, desta vez ao lado de Erlon de Souza, para a prova C2 1.000m. Os dois lideraram por boa parte da disputa, mas nos metros finais acabaram superados pelos canadenses Benjamin Russel e Gabriel Beauchesne-Sévigny, que levaram o ouro com o tempo de 3min46s316, contra 3min47s117 dos brasileiros. O bronze foi para o time cubano formado por Serguey Torres e Jose Bulnes (3min49s932).

"A sensação é ótima de poder ganhar uma medalha junto com o Erlon, porque é um barco de equipe novo e a gente se preparou por pouco tempo para os Jogos. Apesar do cansaço, a gente conseguiu. Saímos um pouco atrás, mas nos recuperamos. Os cubanos já têm anos de treinamento juntos, mas com um pouco mais de treinamento acho que a gente vai conseguir bater não só eles como os outros grandes nomes do C2 do Mundial", avaliou Isaquias.

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Isaquias posa com a medalha de ouro no C1 1000m. Foto: Sergio Dutti/Exemplus/COB

No K2 1000m, o Brasil conquistou o bronze com a dupla formada por Celso Júnior e Vagner Souta. Os brasileiros fecharam o percurso com o tempo de 3min30s104, atrás dos cubanos Jorge Garcia e Reinier Torres (3min25s932) e dos argentinos Pablo de Torres e Gonzalo Carreras (3min27s240).

Na última final e única prova do dia do feminino, a paranaense Ana Paula Vergutz conquistou um resultado histórico para a canoagem brasileira ao se tornar a primeira medalhista da modalidade em Jogos Pan-Americanos entre as mulheres no caiaque. Ela ficou com o bronze na prova K1 500m (2min03s329), atrás da cubana Yusmari Mengana (2min00s656) e da canadense Michelle Russell (2min02s381).

"É claro que a gente queria algo mais, mas vindo de um histórico de que o feminino, na canoagem, nunca teve uma medalha, eu acho que o treinamento foi bem feito. Claro que se fosse prata ou ouro seria melhor, mas estou super feliz, pois foi para isso que a gente trabalhou, para chegar ao pódio", comentou a brasileira.

O Brasil ainda disputou a prova K1 1000m, mas não chegou ao pódio. Celso Júnior cruzou a linha de chegada na quinta colocação.

» Investimentos na canoagem levam modalidade a outro patamar

Esporte estruturado

As conquistas da canoagem brasileira no Canadá são também consequência de um forte investimento do federal. Hoje, a modalidade conta com 436 contemplados com a Bolsa-Atleta, além de outros nove atletas amparados pela Bolsa Pódio (três do slalom e seis da canoagem velocidade, dos quais três são paralímpicos). Para o pagamento desses benefícios são empregados cerca de R$ 6,6 milhões por ano.

Em 2010, um convênio com a Confederação Brasileira de Canoagem (CBCa) repassou R$ 2,1 milhões e, em 2014, outros R$ 2,6 milhões foram destinados ao esporte, via Lei Agnelo/Piva.

A modalidade conta com dois centros de treinamento no Sul do país. Em Curitiba, o Parque Náutico do Iguaçu é usado na preparação das equipes masculina e feminina de caiaque e canoa. A capital paranaense também abriga o Centro de Desenvolvimento da Canoagem Brasileira, especializado na análise científica deste esporte e que é referência no Brasil.

Em Foz do Iguaçu, na fronteira com o Paraguai, está localizado o Centro de Canoagem Slalom, cujo repasse de R$ 3 milhões do Ministério do Esporte para a Prefeitura permitiu a implantação da unidade de bombeamento de água no Complexo Parque da Barragem. Três bombas evitam que possíveis secas no reservatório de Itaipu interrompam o treinamento dos atletas da modalidade, permitindo, assim, que a preparação para 2016 possa ser feita sem contratempos.

"O governo tem uma parte importante na minha carreira. Quando a gente é amador, não tem aquele apoio todo. Quando eu consegui ganhar resultados, consegui a Bolsa-Atleta e, hoje, pelos resultados, estou na Bolsa Pódio. Graças ao COB, conseguimos trazer um dos melhores técnicos do mundo (o espanhol Jesus Morlan), que eu considero o melhor de todos, e eu consegui meus resultados. Se não fosse a contratação dele, acho que não estaria neste nível, ganhando do terceiro melhor da Olimpíada e porta bandeira do Canadá dentro da casa dele", avaliou Isaquias. "Temos que lembrar também da Confederação, que sempre apoia nossos centros de treinamento, tanto em Curitiba quanto em Minas Gerais. A mistura disso tudo acaba ajudando uma grande parte dos atletas".

Para Ana Paula Vergutz, o incentivo para os atletas na caminhada para 2016 foi fundamental para o resultado em Toronto. Para ela, todo o apoio motiva os brasileiros a brigar ainda mais por pódios para o Brasil. "O governo é o grande incentivador para a gente continuar no esporte. Hoje, com todos esses incentivos, a gente vê que pode ter um futuro. O trabalho não fica com falhas. É isso que motiva a gente a cada dia no treino dar algo mais para não só pedir as coisas. O atleta quer mostrar a recompensa e provar que sabe fazer a sua parte".

Sem rim e com três pulmões

Exaltado pelos companheiros de Seleção como um fenômeno da modalidade, Isaquias Queiroz esbanja bom humor e fala com naturalidade sobre o fato de não ter um dos rins. Em 2006, após não ter ido à aula por estar com febre, Isaquias ouviu um rumor de que tinham matado uma cobra na beira do rio que ficava perto de sua casa. Mesmo doente, ele foi lá para ver o bicho. Acabou subindo em uma mureta e, debilitado, ficou tonto e caiu em cima de uma pedra que o atingiu no lado esquerdo do corpo e prejudicou o rim, que teve que ser retirado.

Apesar disso, ele afirma que não necessita de nenhuma atenção especial para treinar ou competir. "Não tem nenhum cuidado especial. O que acontece é que eu tenho que tomar muito mais água e me hidratar mais do que um atleta normal. Tenho que tomar bastante água e me cuidar bastante e me alimentar bem. Fora isso não tem nenhum problema", afirmou o campeão pan-americano.

Indagado sobre como se sentiu ao saber que Pelé também não tem um dos rins, ele declarou, sorrindo: "O pessoal fica falando que ele já pode fazer canoagem comigo e a gente riu pra caramba. Algumas pessoas brincam comigo. Teve um colega que disse: 'Tiraram um rim seu, mas colocaram um pulmão a mais. Você tem três pulmões e é por isso que você rema tanto assim'", diverte-se. "A gente fica zuando com isso, tanto que o pessoal me chama de sem rim", revelou.

Mundial da Itália

A canoagem brasileira disputa o Pan como mais uma etapa na preparação para o principal desafio do ano, o Campeonato Mundial, entre os dias 19 e 23 de agosto, em Milão, na Itália.

O principal objetivo dos atletas é classificar mais barcos para os Jogos Olímpicos do Rio 2016. Até agora, o país já garantiu vaga nas provas K1 1000m, K1 500m e C1 1000m.

Luiz Roberto Magalhães, de Toronto – brasil2016.gov.br