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08/04/2015 16h41

I Seminário ABCD de Educação Antidopagem reúne atletas e técnicos em São Paulo

Evento contou com palestra do ex-ciclista Tyler Hamilton, autor do livro “A corrida secreta de Lance Armstrong”. Participantes conheceram as ações da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem por um esporte limpo

São Paulo – A Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD) promoveu, na noite desta terça-feira (7.4), na capital paulista, o I Seminário ABCD de Educação Antidopagem. O objetivo foi esclarecer atletas e técnicos sobre as principais ações da entidade e alertá-los sobre os riscos da dopagem, principalmente a do tipo não intencional.

Durante o Seminário, os atletas puderam visitar stands e se familiarizar com vários instrumentos utilizados pela ABCD em sua cruzada por um esporte livre do uso de substâncias e métodos proibidos pela Agência Mundial Antidopagem (AMA ou Wada, na sigla em inglês).

Luiz Roberto Magalhães
Luiz Roberto Magalhães#Secretário Nacional para a ABCD, Marco Aurelio Klein fala aos atletas durante o Seminário
Secretário Nacional para a ABCD, Marco Aurelio Klein fala aos atletas durante o Seminário

Uma das principais atrações foi a palestra do ex-clicista norte-americano Tyler Hamilton, campeão da Volta da França e medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Atenas 2004. Ele perdeu todos os títulos e devolveu a medalha após ter sido flagrado em exames antidopagem. Tyler tornou-se mundialmente famoso por ter sido o autor do livro “A história Secreta de Lance Armstrong”, em que conta detalhes de como funcionava a máquina de dopagem montada no ciclismo profissional. Os depoimentos de Hamilton à Justiça dos Estados Unidos e seu livro tiveram enorme repercussão e foram fundamentais no processo que culminou na perda dos sete títulos da Volta da França de Lance Armstrong e de seu banimento do esporte.

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Secretário Nacional para a ABCD, Marco Aurelio Klein também foi um dos palestrantes, assim como o português Luis Horta, médico especialista em medicina esportiva, ex-presidente da Autoridade Antidopagem de Portugal (Adop) entre 2009 e 2014 e que presidiu a Comissão de Laboratório da Wada entre 2005 e 2009. Atualmente, Horta é consultor da Unesco para a ABCD. Em sua palestra, ele explicou os principais pontos do Novo Código Mundial Antidopagem, que entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 2015.

Luiz Roberto Magalhães
Luiz Roberto Magalhães#A ex-ginasta Daiane dos Santos e Tyler Hamilton
A ex-ginasta Daiane dos Santos e Tyler Hamilton
Uma das atletas presentes, a ex-ginasta Daiane dos Santos, que disputou quatro edições dos Jogos Olímpicos e se aposentou após competir em Londres 2012, falou aos participantes e deu detalhes sobre a experiência que viveu em 2009, quando foi flagrada em um exame antidopagem.

Daiane lembrou que, em 2009, enquanto estava afastada da Seleção para recuperar-se de uma cirurgia no joelho, realizou um tratamento estético com enzimas para queimar gordura. Um dos componentes era a furosemida, diurético proibido pela Wada e por isso Daiane testou positivo. Ela foi suspensa por cinco meses, uma pena branda depois que ficou provado que tratava-se de dopagem não intencional.

“Acho esse tipo de iniciativa importante para os atletas serem informados. Ter esse acesso à informação é crucial para evitar casos como o que aconteceu comigo”, declarou Daiane, que hoje vive em São Paulo e será uma das comentaristas da Rede Globo durante os Jogos Rio 2016.

Para Marco Aurelio Klein, o Seminário abre uma nova porta no combate à dopagem no Brasil. “É o início de uma larga caminhada. Esse grupo vai crescer porque cada vez mais precisamos trabalhar para proteger o atleta brasileiro e essa proteção se dá fundamentalmente por uma troca de informações”, ressaltou.

Tyler Hamilton, após recordar diversos pontos marcantes de sua carreira e lembrar como fez uso de substâncias proibidas pela primeira vez – um comprimido de testosterona que lhe foi repassado pelo médico de sua equipe – disse que hoje se sente no papel de alertar as novas gerações para os efeitos danosos da dopagem.

“Eu sempre soube que estava me dopando. Mas como todo mundo fazia eu me convencia de que aquilo era ok. Acho que muitos de nós (no ciclismo) nos convencemos disso, de que não era errado porque todos estavam fazendo”, declarou Hamilton. Ao afirmar que revelar tudo o que fez de errado como atleta foi um processo de libertação, Tyler disse que disse que se sentiu mais feliz por ter devolvido a medalha de ouro dos Jogos Olímpicos de Atenas 2004 do que se sentiu ao conquistá-la.

Stands

A estrutura montada pela ABCD permitiu aos participantes percorrer os estandes montados em um dos salões do Círculo Militar e compreender em detalhes como funcionam diversos instrumentos da associação. Um dos stands explicava o funcionamento da Autorização de Uso Terapêutico (AUT), um mecanismo que permite que um atleta possa fazer uso de um medicamento que contenha uma substância proibida para tratamento de saúde, desde que previamente autorizado por uma comissão de uso terapêutico da ABCD.

Em outro, era possível saber como funciona o “Sistema de Localização – Wherabouts”, no qual o atleta precisa informar com detalhes seu paradeiro a cada 90 dias para que os profissionais possam encontrá-lo para testes fora dos períodos de competição. Negligenciar essa informação ou concedê-la de forma errada pode resultar em violação do Código Mundial Antidopagem e é passível de punição.

Em outro estande os participantes puderam entender como funciona o processo de coleta de material para testes e entender todo o processo da cadeia de custódia desde a coleta até a chegada das amostras ao laboratório acreditado pela Wada.

Luiz Roberto Magalhães
Luiz Roberto Magalhães#Oficial de controle de dopagem mostra como são realizadas as coletas de amostras
Oficial de controle de dopagem mostra como são realizadas as coletas de amostras

Para o ciclista paraolímpico Lauro Chaman, da equipe Memorial Santos e da Seleção Brasileira, o seminário foi esclarecedor. “Muita coisa que vi e ouvi aqui eu não sabia e vou procurar repassar para outros atletas e para minha comissão técnica”, afirmou o vice-campeão mundial de estrada em 2004, nos Estados Unidos, e que neste ano foi quarto colocado no Mundial de Pista na Holanda. Lauro, que vive em Araraquara, ainda destacou a importância do depoimento de Tyler Hamilton. “Ele foi um grande atleta, mas não da forma correta. Mas esclareceu muitas coisas sobre dopagem e isso é importante. Valeu a pena ter vindo e acompanhado todo o seminário”.

Luiz Roberto Magalhães – brasil2016.gov.br