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Tenis de mesa

21/08/2019 19h07

LIMA 2019

Disputa no tênis de mesa abre as competições no Parapan de Lima

Brasil compete a partir desta quinta-feira (22.08) com time formado por 30 atletas, entre eles Iranildo Espíndola, único a ter vencido quatro Parapans no tênis de mesa nacional

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Oficialmente, os Jogos Parapan-Americanos de Lima 2019 serão abertos nesta sexta-feira (23.08), a partir das 19h no horário local, 21h em Brasília, quando a cerimônia de abertura terá início no Estádio Nacional de Lima. A ação, entretanto, começa nesta quinta-feira (22), às 10h, quando os atletas da chave masculina do tênis de mesa disputam as eliminatórias no Ginásio Poliesportivo 3 da Villa Desportiva Nacional (Videna). A estrutura será o coração do Parapan de Lima e abrigará também as provas do atletismo, da natação, do ciclismo de pista, do basquete em cadeira de rodas, do judô, do halterofilismo e do parabadminton.

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Iranildo Espíndola conta com quatro ouros em Jogos Parapan. Foto: Helano Stuckert/rededoesporte.gov.br

Para a delegação brasileira, a disputa no tênis de mesa é estratégica não apenas pelas expectativas de pódios que contribuirão para o país atingir a meta de terminar o megaevento continental no topo do quadro de medalhas. Todos os campeões em Lima nas competições individuais do tênis de mesa conquistarão, além das medalhas douradas, a classificação para as Paralimpíadas de Tóquio 2020.

No Peru, o Brasil competirá na modalidade com um time de 30 atletas. Serão 20 homens e 10 mulheres. Do grupo, todos recebem a Bolsa Atleta, sendo que sete são contemplados com a Bolsa Pódio, a mais alta categoria do programa: Aloisio Junior, Catia Oliveira, Danielle Rauen, Guilherme Costa, Iranildo Espíndola, Jennyfer Parinos e Welder Knaf. O investimento anual em todos os atletas do tênis de mesa que estão em Lima e são apoiados pelo incentivo federal é de R$ 1,278 milhão.

“Desde Guadalajara 2011 e depois, em Toronto 2015, temos uma soberania no tênis de mesa no Parapan. Nossa ideia é que possamos continuar nesse patamar, já que chegamos aqui com um grupo muito forte”, ressalta Paulo Molitor, head coach da equipe brasileira.

Quinto ouro

Aos 50 anos, o goiano Iranildo Espíndola detém uma marca emblemática quando o assunto são os Jogos Parapan-Americanos: são quatro ouros seguidos na disputa individual da classe 2, para cadeirantes, conquistados em Mar del Plata 2003, Rio 2007, Guadalajara 2011 e Toronto 2015.

“Para mim é uma alegria e uma imensa felicidade de ostentar essas conquistas”, comemora Iranildo. “É meu quinto Parapan e sou campeão dos últimos quatro. Então isso traz uma bagagem e uma experiência grande para estar aqui. Tenho esse know how de ter participado dos últimos quatro Parapans, isso dá uma tranquilidade a mais, e com certeza vou buscar esse quinto título”, avisa.

“O legado do Rio 2016 ficou. Agora, com essas conquistas que tivemos, com esse centro de treinamento em São Paulo e com os recursos financeiros como a Bolsa Pódio, o Bolsa Atleta, o Time Caixa, que estão direcionados para o esporte paralímpico, acho que coroamos todo esse processo”
Iranildo Espíndola, mesa-tenista

Para ele, todo o investimento realizado pelo Governo Federal com a Bolsa Atleta e a Bolsa Pódio, somado ao legado deixado pelo Rio 2016 com o Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo, mudou o status do tênis de mesa paralímpico do país.

“Nunca estivemos tão bem preparados. Treinamos no Centro de Treinamento Paralímpico com toda a estrutura de que um atleta profissional precisa: uma equipe multidisciplinar de médicos, fisioterapeutas e outros profissionais, todos nos preparando para que a gente tenha condições de estar aqui e representar bem o nosso país. Então, a expectativa é de conquistarmos muitas medalhas”, diz Iranildo.

“O legado do Rio 2016 ficou e estamos aproveitando isso tudo da melhor maneira possível. Eu, que vivenciei isso desde o começo, que vi a desigualdade que tínhamos em relação a outros países, principalmente os asiáticos e europeus, sei como a gente sofria. Agora, com essas conquistas que tivemos, com esse centro de treinamento em São Paulo e com os recursos financeiros como a Bolsa Pódio, o Bolsa Atleta, o Time Caixa, enfim, todos os recursos que são direcionados para o esporte paralímpico, acho que coroamos todo esse processo”, continua Iranildo.

“O atleta hoje treina e vai para as competições com mais facilidade. Viajamos mais tranquilos com esses apoios, pois temos acesso a bons materiais, a uma cadeira de rodas de nível internacional e tudo isso veio para fazer a diferença na vida dos atletas. Sou muito emotivo nas competições e dou valor demais a isso, que se reflete nas conquistas. Já que sou o maior vencedor do tênis de mesa em Pan-Americanos do Brasil, no olímpico e paralímpico, no masculino e no feminino. Sou o único brasileiro que tem quatro títulos individuais no tênis de mesa e isso é fruto de tudo isso que eu falei aqui. Com todos esses recursos, todo esse legado, eu canalizei para que os resultados viessem e, graças a Deus, eles vieram”, encerra o campeão.

Dois “desfalques”

Em 2015, em Toronto, o Brasil brilhou com uma campanha histórica. Voltou para casa com 15 ouros, 10 pratas e 6 bronzes no melhor desempenho do país em Parapans no tênis de mesa.

Paulo Molitor, entretanto, esclarece que repetir ou superar esse desempenho será uma tarefa complicada em Lima, mesmo com toda a força do time brasileiro. “Manter esse nível de medalhas acho que vai ser mais difícil do que em Toronto. Para aquele Parapan, tínhamos 16 pessoas na seleção permanente: oito cadeirantes e oito andantes. Agora, temos só oito atletas: três cadeirantes e cinco andantes. Só que dos cinco andantes só vieram três, pois a Bruna Alexandre e o Israel Stroh não vieram. São dois atletas fortes, que viriam para disputar o ouro. Além disso, temos algumas classes que vão disputar a mesma medalha, como a classe 2 masculina e a classe 9 feminina”, explica.

Segundo ele, abrir mão da participação de Bruna e Israel foi uma decisão estratégica. “A Bruna está bem posicionada no ranking mundial, está em segundo lugar e praticamente classificada para Tóquio pelo ranking. E o Israel vem de uma sequência muito boa este ano. Ele passou de 11º para 8º, praticamente garantindo a classificação pelo ranking também. Com isso, decidimos não trazê-lo para tentarmos o ouro com outros atletas, como o Paulo Salmin. Esperamos que ele possa ganhar essa medalha de ouro e com isso possamos classificar os dois, ele e o Israel, para Tóquio”, detalha.

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Jennyfer Parinos e Danielle Rauen. Foto: Roberto Castro/Rededoesporte.gov.br

Rota de colisão

Em Lima, o Brasil poderá viver a melhor situação possível para a equipe, que é ter dois atletas classificados para a final na mesma classe. Esse cenário pode ocorrer principalmente na classe 9, no feminino, e na classe 10, no masculino, mas é possível também nas classes 3, 8 e 10 masculinas.

Entretanto, uma final 100% brasileira obriga que os atletas tenham que deixar laços afetivos de lado, como é o caso de Jennyfer Parinos e Danielle Rauen, da classe 9. Há quatro anos, em Toronto, as duas avançaram à final no Parapan canadense. Danielle levou a melhor e Jennyfer ficou com a prata. Agora, a expectativa é de que elas possam se reencontrar de novo em uma decisão no megaevento continental.

“O coração fica meio apertado, porque além de adversárias nós moramos juntas e somos as melhores amigas. Mas ao mesmo tempo em que uma torce pela outra, precisamos ter aquele individualismo para torcer por nós mesmos. Temos que saber lidar. Temos que saber diferenciar. Se ela ganhar ou eu ganhar, sei que a outra vai ficar feliz”, diz Jennyfer.

Ela conta que as duas já jogaram pelo ouro algumas vezes em eventos internacionais e, portanto, estão habituadas a essa situação. “Isso vem desde 2013, no Campeonato Parapan-Americano de Tênis de Mesa. No Parapan de Toronto a gente fez a final, foi assim no ano retrasado, na Eslovênia, e neste ano, na Itália e na Espanha nós jogamos uma contra a outra. Então a gente já vem de uns oito jogos valendo para o ranking mundial nessas condições. Estamos meio que acostumadas”, ressalta.

Em 2015, Danielle levou o ouro e garantiu a vaga para o Rio 2016. Jennyer acabou indicada para defender o Brasil nas Paralimpíadas em casa pela vaga do país-sede. Ela lembra que, se a situação se repetir, quem ficar com a prata em Lima terá outras oportunidades para carimbar o passaporte e competir em Tóquio 2020. “Quem não classificar aqui terá mais duas chances: ou pelo ranking ou pela seletiva mundial”, tranquiliza.

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Catia Oliveira é favorita ao ouro na classe 2. Foto: Helano Stuckert/rededoesporte.gov.br

Em nome do pai

Outra favorita ao ouro em Lima é Catia Oliveira. Medalha de prata em 2018 no Mundial da Eslovênia, ela se tornou a primeira atleta do país a disputar uma final individual no tênis de mesa paralímpico em um Mundial.

No Mundial da Eslovênia, contudo, Catia viveu emoções conflitantes. De um lado, a alegria por ter conquistado o melhor resultado do país na história dos mundiais na modalidade. Do outro, um tristeza arrasadora pela perda do pai, Flávio Alves, que, emocionado com a vitória da filha na semifinal, passou mal, foi internado e, infelizmente, acabou não resistindo.

“Foi uma perda muito grande. Meu pai era meu maior incentivador. Mas agora, estando lá no céu ou onde estiver, ele está me dando mais força ainda. Agora em todos os jogos, em todas as competições, eu entro para dar 110% na mesa. E, se Deus quiser, quero sair com vitórias para dedicar ao meu pai. É o cara que está me dando força lá de cima”, diz Catia, ouro no individual na classe 2 e prata por equipe em Toronto 2015.

Para ela, a prata no Mundial em Celje impulsionou sua carreira para um outro patamar. “Eu falo que a Catia do Mundial era uma e a que chega para essa Parapan é outra. Depois do Mundial minha carreira está cada vez mais forte. Este ano nós fomos para a Eslovênia e eu consegui ser prata lá. Ganhei duas vezes da atual tricampeã paralímpica, a chinesa. Ganhei na chave, perdi na final e ganhei depois dela na disputa por equipe”, recorda, referindo-se a Jing Liu, ouro nas Paralimpíadas de Pequim 2008, Londres 2012 e Rio 2016.

“Foi um resultado muito bom para me dar mais força para chegar aqui em Lima e dar o meu melhor. Venho treinando muito forte para tentar sair daqui como a bicampeã parapan-americana e com a vaga para Tóquio. Quero voltar com essa vaga para estar mais tranquila para os próximos campeonatos”, avisa Catia.

Entenda as classes

No tênis de mesa, as competições começam nesta quinta-feira e prosseguem até a próxima terça-feira (27.08). As finais serão disputadas no sábado (24) e na terça.

No tênis de mesa paralímpico, os atletas são divididos em 11 classes distintas, que seguem uma lógica: quanto maior o número da classe, menor é o comprometimento físico-motor do atleta.

A classificação é realizada a partir da mensuração do alcance dos movimentos de cada atleta, de sua força muscular, das restrições locomotoras, do equilíbrio na cadeira de rodas e da habilidade de segurar a raquete. As classes 1 a 5 são para atletas cadeirantes. As classes 6 a 10 são para atletas andantes e a classe 11 é voltada para atletas andantes com deficiência intelectual.

Infográfico - Jogos Parapan-Americanos Lima 2019

Luiz Roberto Magalhães, de Lima, no Peru – rededoesporte.gov.br