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Tenis de mesa

18/09/2019 12h19

Tênis de Mesa

Com inédito Top 100 no horizonte, Vitor Ishiy ganha força na disputa pela vaga olímpica

Resultados recentes devem levar o mesatenista a figurar entre os 100 melhores do mundo em outubro. Com isso, Brasil terá cinco atletas no grupo, mas só quatro vão à seletiva olímpica

A virada de setembro para outubro ganhou um tom diferente de ansiedade e expectativa para Vitor Ishiy. O décimo mês de 2019 traz o potencial de um simbolismo inédito para o mesatenista de 23 anos. Pela primeira vez em sua carreira, o paulista deve figurar entre os 100 melhores do mundo no ranking da Federação Internacional de Tênis de Mesa (ITTF). Se isso ocorrer, será a primeira vez que o Brasil terá cinco atletas entre os 100 melhores do mundo no masculino, todos eles integrantes do Bolsa Atleta, programa da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania.

Listagem de outubro da ITTF deve trazer Vitor entre os 100 melhores do mundo. Foto: Abelardo Mendes Jr./rededoesporte.gov.br

Atualmente o 121º colocado no ranking da ITTF, Vitor tem como melhor posição já registrada a de número 114, em janeiro de 2019. A perspectiva de quebrar esse limiar veio com performances de grande consistência em dois torneios disputados no Paraguai num período de 15 dias.

"Esse resultado no Pan eu buscava há tempos. Nunca antes havia chegado às quartas. De repente cheguei à decisão ganhando de três Top 100. Dois deles eu nunca havia vencido"
Vitor Ishiy

Primeiro, no Campeonato Pan-Americano, de 3 a 8 de setembro. Vitor teve uma trajetória de cinco vitórias na chave individual para conquistar o inédito título. No caminho, deixou para trás três adversários do Top 100. Bateu o anfitrião Marcelo Aguirre (54º) nas oitavas, o colombiano Alberto Mino (75º) nas quartas e o brasileiro Gustavo Tsuboi (28º) na semifinal. O ouro veio após bater o argentino Gaston Alto (141º) na decisão. Vitor já tinha no currículo o título dos Jogos Sul-Americanos de Cochabamba, na Bolívia, em 2018, mas o simbolismo do pódio paraguaio foi de outro patamar.

"Aqui no Campeonato Pan-Americano foi um resultado melhor pelo nível de tênis de mesa. Era algo que eu buscava há tempos. Nunca antes havia chegado às quartas de final. De repente cheguei na decisão ganhando de três Top 100. Dois deles eu nunca havia vencido na carreira", disse Ishiy. 

Na semana seguinte, ou quase no dia seguinte, Vitor já entrou na fase de grupos do Aberto do Paraguai, evento da categoria Challenger Plus do circuito internacional, também disputado em Assunção. Passou sem perder sets pelos dois jogos do grupo do qualifying, chegou à chave principal e venceu outras três partidas até parar na semifinal, diante do austríaco Robert Gardos (42º do mundo). Nesse caminho, superou novamente três adversários do top 100. Além de repetir a dose com Aguirre na fase de 32 e com Tsuboi nas oitavas, Ishiy passou por Brian Afanador (85º) nas quartas.

"O Vitor mostrou um ótimo nível nessas duas competições. Foi bem consistente e mostrou evolução na parte tática e maturidade para manter o nível nos momentos mais importantes do jogo. Isso é ótimo para a gente, pois aumenta a concorrência e o nível da equipe", afirmou o técnico da Seleção Brasileira Masculina, Francisco Arado, o Paco. 

Como as vitórias sobre atletas que estão à frente na listagem contam muitos pontos no ranking, é quase certo que Vitor figure no Top 100 na atualização de 1º de outubro da ITTF. "Esses últimos tempos tentei não pensar muito no ranking para não me distrair do importante, que é jogar bem, mas claro que isso significa muito. Estive bastante tempo entre 100º e 150º. Faltava um resultado expressivo para figurar no Top 100. Esse sempre foi um dos meus objetivos", comentou.

Ouro nos Jogos Sul-Americanos de Cochabamba, em 2018. Até então uma das grandes conquistas do atleta paulista. Foto: Abelardo Mendes Jr./rededoesporte.gov.br

Virada de chave na equipe

Na visão de Vitor, os resultados nos torneios individuais se devem, em parte, a uma injeção de confiança que ele ganhou ao sair de uma situação adversa na disputa por equipes no Campeonato Pan-Americano. Na semifinal do torneio contra os EUA, Vitor e Eric Jouti venceram a partida de duplas. Tsuboi foi superado pelo jovem Jha Kanak, 22º do mundo aos 19 anos e medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos da Juventude de Buenos Aires, em 2018. Com o placar em 1 x 1, coube a Vitor um jogo estratégico, contra Nikhil Kumar. E a partida parecia ir embora, com o adversário, um talentoso adolescente de 16 anos que ocupa a 175ª posição do ranking, vencendo por 2 sets a 0 (11/6 e 11/5).

"O Vitor mostrou um ótimo nível. Foi bem consistente e mostrou evolução na parte tática e maturidade para manter o nível nos momentos importantes. Isso aumenta a concorrência e o nível da equipe. Podemos levar até quatro atletas para o Pré-Olímpico. A convocação sairá no início de outubro"
Francisco Arado, o Paco, técnico da seleção masculina

"Ali eu estava no buraco. Estava perdendo de 0/2 e sem encontrar soluções. Lutando muito, consegui virar para 3 x 2 e logo depois o Tsuboi fechou o jogo. Naquele momento senti que estava bem e com confiança", avaliou Vitor.

Com a face mental em alta e o suporte dos colegas de equipe, Vitor Ishiy saiu do Paraguai com um ouro e um bronze no individual, além do título por equipe no Pan-Americano e de duas medalhas em duplas no Aberto: uma prata ao lado de Caroline Kumahara e um bronze com Thiago Monteiro.

"Confesso que tive a sorte de fazer duplas com o Thiago e a Carol. Eu diria que eles me 'carregaram'. Sinto que o rendimento caiu um pouco, mas eles jogaram muito e assim conseguimos mais medalhas para o Brasil", avaliou Ishiy, que estabeleceu na soma das duas competições os melhores resultados individuais e em duplas de sua carreira no circuito internacional.

O Pan, aliás, deixou uma pontinha de frustração em Vitor. O megaevento continental permitia apenas três vagas no time, e a comissão técnica optou pelos três melhores no ranking: Hugo Calderano, Gustavo Tsuboi e Eric Jouti. "Sendo honesto, fiquei triste de não poder participar. Sentia que estava jogando bem, mas atualmente somos cinco jogadores brigando pelas vagas, e todos mereciam".

Cinco para quatro vagas

Mais do que figurar no Top 100, a performance de Vitor Ishiy dá força para o atleta em outra frente: a busca por figurar entre os quatro atletas que vão representar o Brasil no Pré-Olímpico Latino Americano, que será em Lima, no Peru, entre os dias 25 e 27. "Podemos levar até quatro atletas. A convocação sairá no início de outubro", afirmou Paco. O local da competição será o Complexo de Videna, no mesmo ginásio em que foram disputados os Jogos Pan-Americanos, em agosto.

Cotada como favorita em Lima, a equipe brasileira acabou surpreendida na semifinal e foi superada pelos EUA por 3 x 1. Ficou com o bronze. "É difícil falar sobre aquele jogo contra os EUA. O Brasil era favorito, sim, mas esse time americano é bom. É uma geração jovem que será rival nossa por anos", comentou.

Para ele, os resultados expressivos no Paraguai não guardam conexão com a ausência no Pan de Lima nem são uma "resposta" à comissão técnica. "Não há relação com não ter ido aos Jogos. Sinto que foi mais com relação à vontade de tentar conquistar essa vaga na equipe para os Jogos Olímpicos", disse.

Dupla mista com Caroline Kumahara rendeu a prata em Assunção. Foto: ITTF
"Sendo honesto, fiquei triste de não poder participar do Pan de Lima. Sentia que estava jogando bem, mas atualmente somos cinco jogadores brigando pelas vagas, e todos mereciam"
Vitor Ishiy

Forma de disputa

O Pré-Olímpico Latino-Americano é disputado por todos os países da América, com exceção de Estados Unidos e Canadá. Apenas o time campeão do torneio no masculino e no feminino conquista a vaga para os Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020. As equipes que não conseguirem terão uma segunda chance no Pré-Olímpico Mundial. Agendada para janeiro, a competição reserva outras nove vagas, mas junta na disputa países de todos os continentes. Nas duas últimas grandes competições internacionais por equipes no tênis de mesa, o Brasil se posicionou entre os oito melhores. Chegou às quartas de final na Copa do Mundo e no Mundial, ambos disputados em 2018.

"Ainda não sabemos quem jogará o Pré-Olímpico de equipes, mas espero ter a chance de jogar e poder ajudar o Brasil a se classificar", disse Vitor. "Até as Olimpíadas ainda temos uma temporada inteira pela frente. São muitos jogos e torneios pela frente, mas com certeza com esses dois resultados no Paraguai eu me sinto mais motivado. Claro, primeiro de tudo o importante é classificar o Brasil, mas as Olimpíadas sempre foram meu maior sonho. Estão, sim, no meu caderninho de objetivos".

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Vitor durante o Mundial em Budapeste. Presença frequente na seleção brasileira. Foto: Abelardo Mendes Jr./rededoesporte.gov.br

Da quadra para a mesa

Antes de adotar o tênis de mesa como prioridade e buscar na modalidade o caminho do alto rendimento e do profissionalismo, Vitor Ishiy praticou natação, futsal e judô. Desde pequeno jogava também tênis de quadra, influenciado pelo fato de seus pais praticarem com amigos.

No tênis de mesa, deu as primeiras raquetadas na casa do avô, mas num ambiente que ainda merecia o nome de ping-pong, por ter um caráter de diversão e lazer. A modalidade apareceu de forma mais efetiva quando a escola onde estudava passou a oferecer aulas do esporte, quando ele tinha dez anos.

A partir dali, a chave para o alto rendimento começou a ser virada quando ele teve de escolher entre futsal, tênis ou tênis de mesa. Optou pelas raquetes e bolinhas pequenas. "Mas, nesse período, mesmo treinando firme, jogando torneios estaduais, nacionais e posteriormente internacionais, minha mãe sempre me criou para colocar os estudos em primeiro lugar", ressaltou.

O segundo e mais decisivo momento foi já no juvenil, quando a Confederação Brasileira de Tênis de Mesa começou a investir em viagens para a Europa. Ali, Vitor Ishiy passou a frequentar ambientes ainda mais profissionais ao lado de Hugo Calderano e Eric Jouti. "Por conta disso, o terceiro ano do Ensino Médio tive de estudar de noite porque já treinava em dois períodos, manhã e tarde. Os resultados começaram a melhorar e nisso vi uma oportunidade de tentar jogar profissionalmente".

"O primeiros quatro anos foram de investimento. Eu não conseguia clubes em boas divisões para que me pagassem o suficiente. Terminava quase zerado. O Bolsa Atleta ajudou muito"
Vitor Ishiy

Percalços e insistência

A mudança física para a Europa veio com a conclusão do Ensino Médio, a partir de um contato do técnico francês Jean-René Mounie com o clube Ochsenhausen, atual campeão da Alemanha. Foram quatro anos de grande investimento financeiro e de insistência de Vitor. Ele precisava pagar pelos treinamentos. A melhor forma de saldar o custo era fechar contratos com clubes europeus para disputar ligas, mas o mercado do Velho Continente é extremamente competitivo.

"Esses primeiros quatro anos foram de muito investimento. Eu não conseguia clubes em boas divisões para que me pagassem o suficiente. A CBTM no início me ajudava com metade dos custos para treinar, e eu pagava a outra metade com o dinheiro do clube que jogava. Terminava os anos praticamente zerado, mas sempre tive tive ajuda com materiais de jogo. Nunca me faltou raquete, borracha e tênis", comentou Vitor.

Naquele momento, segundo o atleta, o patrocínio federal foi essencial. "O Bolsa Atleta foi de grande ajuda mesmo. Era um complemento de renda essencial", disse Vitor, que pertence à categoria internacional do programa. No tênis de mesa como um todo, o governo federal patrocina atualmente 126 atletas olímpicos, com um investimento anual de R$ 1,7 milhão, além de outros 121 paralímpicos, que representam um repasse de R$ 2,8 milhões em 12 meses.

O cotidiano de Vitor deu uma guinada em 2018. Ele fechou um contrato com o clube francês Chartres para jogar a primeira divisão francesa, uma das melhores do mundo. "Isso me deu mais estabilidade. Continuo treinando em Ochsenhausen e jogando por Chartres, com um contrato de trabalho que me ajuda até na questão de conseguir vistos", afirmou.

Nesse percurso, aponta Vitor, outra conexão importante foi o apoio de Hugo Calderano. "Tenho com o Hugo uma amizade muito forte. Desde 2008 já nos conhecíamos. Depois, quando ele foi morar em São Caetano do Sul (SP), viramos companheiros de equipe e de seleção. Essa amizade se fortaleceu em Ochsenhausen. Nos três primeiros anos aqui moramos juntos. Tenho muito carinho também pela família dele. Todos são tranquilos e bem-humorados. Uma coisa é certa: muitas oportunidades surgiram para mim por causa do Hugo", concluiu Vitor, em referência ao número seis do mundo.

Gustavo Cunha - rededoesporte.gov.br