Você está aqui: Página Inicial / Notícias / As incríveis histórias dos medalhistas brasileiros no tiro com arco em Toronto

Atletismo

10/08/2015 19h05

Toronto 2015

As incríveis histórias dos medalhistas brasileiros no tiro com arco em Toronto

Jane abandonou vaga certa no tênis de mesa para ser ouro em seis meses de treino. Luciano quase deixou cair a flecha no tiro que lhe daria a vitória. E Thaís celebra a prata um ano após optar pela amputação da perna
1 | 20
Jane Gögel conquistou o ouro no arco composto para atletas sentados. Foto: Daniel Zappe/MPIX/CPB
2 | 20
Jane Gögel conquistou o ouro no arco composto para atletas sentados. Foto: Daniel Zappe/MPIX/CPB
3 | 20
Thaís Silva e Carvalho foi prata no arco recurvo. Foto: Daniel Zappe/MPIX/CPB
4 | 20
Luciano Rezende faturou a medalha de ouro no arco recurvo. Foto: Daniel Zappe/MPIX/CPB
5 | 20
Luciano Rezende faturou a medalha de ouro no arco recurvo. Foto: Daniel Zappe/MPIX/CPB
6 | 20
Jane Gögel conquistou o ouro no arco composto para atletas sentados. Foto: Daniel Zappe/MPIX/CPB
7 | 20
Luciano Rezende faturou a medalha de ouro no arco recurvo. Foto: Daniel Zappe/MPIX/CPB
8 | 20
Luciano Rezende faturou a medalha de ouro no arco recurvo. Foto: Daniel Zappe/MPIX/CPB
9 | 20
Luciano Rezende faturou a medalha de ouro no arco recurvo. Foto: Daniel Zappe/MPIX/CPB
10 | 20
Luciano Rezende faturou a medalha de ouro no arco recurvo. Foto: Daniel Zappe/MPIX/CPB
11 | 20
Thaís Silva e Carvalho foi prata no arco recurvo. Foto: Daniel Zappe/MPIX/CPB
12 | 20
Luciano Rezende faturou a medalha de ouro no arco recurvo. Foto: Daniel Zappe/MPIX/CPB
13 | 20
Jane Gögel conquistou o ouro no arco composto para atletas sentados. Foto: Daniel Zappe/MPIX/CPB
14 | 20
Luciano Rezende faturou a medalha de ouro no arco recurvo. Foto: Daniel Zappe/MPIX/CPB
15 | 20
Thaís Silva e Carvalho foi prata no arco recurvo. Foto: Daniel Zappe/MPIX/CPB
16 | 20
Luciano Rezende faturou a medalha de ouro no arco recurvo. Foto: Daniel Zappe/MPIX/CPB
17 | 20
Thaís Silva e Carvalho foi prata no arco recurvo. Foto: Daniel Zappe/MPIX/CPB
18 | 20
Jane Gögel conquistou o ouro no arco composto para atletas sentados. Foto: Daniel Zappe/MPIX/CPB
19 | 20
Luciano Rezende faturou a medalha de ouro no arco recurvo. Foto: Daniel Zappe/MPIX/CPB
20 | 20
Thaís Silva e Carvalho foi prata no arco recurvo. Foto: Daniel Zappe/MPIX/CPB
19840482013_edd5bff5a7_k.jpg
19840482293_e720026b9d_k.jpg
19844319764_95498f0214_k.jpg
19846025633_8d96529287_k.jpg
19846034603_7b37f93bd0_k.jpg
20273372638_49047c824a_k.jpg
20278834610_a247896fb2_k.jpg
20278843470_7aad60750c_k.jpg
20280293469_664d9f5c1c_k.jpg
20280303889_e153d1858e_k.jpg
20440722706_ae8b1aac42_k.jpg
20440731816_2fe470b5ab_k.jpg
20452701632_1bcc373903_k.jpg
20461405915_4bf534e4a9_k.jpg
20466953915_c5e2ad85c5_k.jpg
20466954225_128501becc_k.jpg
20466963185_b5c5a1105b_k.jpg
20467660151_fdc6874679_k.jpg
20473227311_fe6cd178fa_k.jpg
20473228051_34dda84494_k.jpg

"Ela não atira. Ela joga". Assim, sem legenda, a frase dos colegas de tiro com arco sobre Jane Gögel não parece dar liga. Mas, quando aplicada para definir o caminho dela até o ouro para atletas sentados no Parapan de Toronto, faz todo sentido. Goiana de nascimento e "por insistência", Jane tem histórico de campeã, mas não com arco e flechas em punho. Ela já somava três ouros em Jogos Parapan-Americanos, todos pela Classe 8 do tênis de mesa, para andantes, conquistados em 2007, no Rio, e em Guadalajara, no México, em 2011. Com raquete e bolinhas, foi quarta colocada nas Paralimpíadas de Pequim (2008) e de Londres (2012). E estava com a vaga encaminhada para seguir a trilha em Toronto.

A insistência citada acima, contudo, mudou radicalmente os verbos que ela conjuga no mundo esportivo. Trocou o jogar, do tênis de mesa, pelo atirar, do tiro com arco. Mas a troca não foi bem interiorizada, e ela insiste, no cotidiano de 300 a 400 tiros diários, seis vezes por semana, em dizer "jogar". E como jogou em Toronto: na final do arco composto contra a canadense Karen Van Nest, somou 140 pontos dos 150 possíveis nos disparos contra o alvo a 50 metros de distância, recorde da competição. Van Nest ficou com a prata, com 132. O bronze foi para Martha Chavez, dos Estados Unidos.

"No fim, deu tudo certo. Houve um momento em que tive de decidir. Não podia mudar de cidade para ficar na equipe permanente de tênis de mesa, em Piracicaba (SP). E ir e voltar com frequência estava difícil. Eu não estava rendendo. Não queria largar o esporte, mas queria um que pudesse praticar em Goiânia. Encontrei o tiro com arco", explicou Jane, que começou a atirar recentemente, em janeiro de 2015. "Agora é bola para frente porque o Rio 2016 está chegando e quero estar bem lá", completou.

O crescimento acelerado impressiona até mesmo o técnico dela, Henrique Campos. "É uma ascensão rápida, que nos dá muita esperança para 2016. Ela não está para brincadeira. É persistente de verdade. Quer treinar enquanto puder. Às vezes, só para por falta de iluminação. E tem um componente que ajuda demais: ela já veio para nós com a facilidade da mentalidade, de lidar bem com pressão, de ser tranquila em situações de tensão. O tiro com arco é técnica e parte mental", afirmou o treinador.

Da apreensão ao choro de alívio

Era o último tiro de uma disputa de cinco games para definir o ouro no arco recurvo no Parapan de Toronto. O maranhense de Balsas Luciano Rezende precisava de uma pontuação melhor que sete para bater Eric Bennet, dos Estados Unidos. São 20 os segundos para executar o disparo em direção ao alvo posicionado a 70 metros de distância. Quando faltavam 12s, ele não gostou do jeito que encaixou a flecha. Houve um murmúrio geral de apreensão nas arquibancadas da Universidade de Toronto: parecia que a flecha caíra. Mas não. Luciano desmontou o conjunto, armou novamente com a pressa que o tempo exigia, apontou, soltou a flecha e acertou "na mosca". Um dez de ouro e de vaga da modalidade para os Jogos Rio 2016.

"Este último não fui eu, foi Deus", afirmou. "Era um tiro mal armado. Quando acontece, é melhor voltar e fazer de novo. Eu olhei o tempo, vi que ainda dava, porque no treinamento eu sabia que dez segundos seriam suficientes, coloquei novamente a flecha no lugar e soltei. Saí de terceiro na classificatória para o ouro", afirmou o atleta, que tinha feito o caminho inverso quatro anos atrás, em Guadalajara. "Lá, terminei em primeiro na fase preliminar e acabei perdendo nos combates para um americano que no ano anterior havia sido campeão mundial".

A final teve ingredientes de emoção mesmo antes do tiro final. Luciano venceu os dois primeiros games e, como cada um vale dois pontos, abriu 4 x 0 sobre Bennet. O americano, no entanto, recuperou-se nos dois games seguintes e levou a decisão à quinta parcial. "Assim fica mais especial, tanto para mim quanto para vocês", brincou Luciano, que começou a treinar em 2009, pratica a modalidade no Clube do Exército, em Brasília, seis vezes por semana, e sonha com o Rio.

"O momento é de ter foco maior nos Jogos de 2016. Os principais atletas estão na Europa. Temos de fazer um treinamento forte", disse o atleta, que conta com o acompanhamento de nutricionistas e psicólogos na preparação. Acompanhamento que aparentemente mostrou eficiência no Canadá, já que ele conseguiu controlar a tensão e a emoção para a hora certa. Só extravasou os sentimentos em um choro emocionado após receber a medalha e conceder entrevistas. 

20440722706_ae8b1aac42_k.jpg
Thaís Silva e Carvalho foi prata no arco recurvo. Foto: Daniel Zappe/MPIX/CPB

Saga esportiva por qualidade de vida

Thaís Silva e Carvalho não levou o ouro, mas o sorriso aberto e o capricho de se maquiar para ir ao pódio receber a prata denotam o quanto a medalha tem significado transcendente na história recente da atleta, que passou por cirurgia em 2012, perdeu o pai em 2013 e optou por amputar parte da perna direita por razões clínicas em 2014.

"Tive de parar de treinar algumas vezes nesse ciclo, mas agora acabou. Estou feliz demais. Claro que queria o ouro. Mas já é um passo a mais no tiro com arco. E estar na final valeu a segunda vaga paralímpica da classe para o país. Vamos para o Mundial na Alemanha, agora, buscar a terceira vaga, porque o país-sede já tem uma garantida", afirmou.

Thaís viveu durante muito tempo as complicações de uma fratura não calcificada na tíbia direita, sofrida aos três anos de idade, que fez com que a perna chegasse a ficar 12 centímetros mais curta do que a outra. "A amputação veio, foi uma decisão que tomei e que me trouxe mais qualidade de vida", disse.

Na decisão, Thaís perdeu o ouro para a norte-americana Natalie Wells, por 6 x 2. O bronze ficou com Kinga Kiss-Johnson, também dos Estados Unidos. A única coisa que deixou Thaís com um quê de decepção foi ter perdido o primeiro tiro da disputa e ter feito outro disparo mal sucedido, de cinco pontos entre os dez possíveis, na parte final da competição.

"São momentos. A ideia é tentar esquecer a flecha já atirada e seguir adiante. No fim, acho que meu desempenho foi abaixo do que gostaria, mas não dá para comparar aquilo que você faz em treino com algo que envolve tanta coisa. Lá, na hora, eu não estava ouvindo ninguém. Estava focada no alvo. Concentrada, com o objetivo de tentar esquecer o restante. Tem muito o que melhorar", afirmou a atleta de 23 anos, que nasceu e treina em Brasília.

Evolução de "300%"

Com os resultados, o tiro com arco brasileiro terminou em segundo lugar no quadro de medalhas específico da modalidade em Toronto, com dois ouros e uma prata. "Uma evolução de 300%", brincou um dos técnicos da equipe, Henrique Campos, em referência ao fato de que o país não havia chegado ao pódio quatro anos antes, em Guadalajara. Os Estados Unidos somaram oito medalhas, com dois ouros, duas pratas e quatro bronzes. O Canadá terminou em terceiro, com uma prata. 

Gustavo Cunha, de Toronto - brasil2016.gov.br