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Atletismo

05/06/2018 13h53

Cochabamba 2018

Almir Júnior transformou "paixão platônica" em feliz casamento com o salto triplo

Atleta que treinou dez anos no salto em altura fez a transição para a prova que "namorava" e chegou à prata no Mundial. Na Bolívia, mira a vivência em megaeventos de olho em Tóquio

Jogos Sul-Americanos Cochabamba 2018

O mato-grossense Almir Júnior deixou sua marca no salto triplo de forma meteórica. Na formalidade dos números, ele adotou a modalidade bem tarde, aos 23 anos. E, aos 24, se consolidou como realidade da tradicional prova em nosso país ao saltar 17,41m e conquistar a prata no Mundial Indoor 2018, em Londres, na Inglaterra. Agora, ele se prepara para estrear nos Jogos Sul-Americanos de Cochabamba, na Bolívia, com a expectativa de ganhar rodagem em megaeventos e se preparar de forma precisa para os Jogos Olímpicos de Tóquio, no Japão, em 2020.

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Foto: Rodolfo Vilela/ rededoesporte.gov.br
"Eu sempre tive apreço pelos saltos horizontais, tanto distância quanto triplo. Eu achava provas bonitas, a competitividade me agradava mais"
Almir Júnior

Se a relação de Almir com o triplo é recente, a vivência no atletismo é de longa data. Ele entrou na modalidade pela porta do salto em altura, aos 14 anos, muito em função de seu biotipo, de pernas longas. Foi descoberto pelo técnico José Haroldo Loureiro Gomes, o Arataca, do clube Sogipa, de Porto Alegre. Ele tirou o garoto da cidade de Peixoto de Azevedo, de 33 mil habitantes no interior de Mato Grosso, lapidou a técnica e mostrou a ele as oportunidades que o atletismo poderia oferecer.

"Eu sempre quis viver do esporte. Era um sonho que tinha. Quando tive essa oportunidade, sabia que não tinha nada a perder. Eu vim de uma cidade minúscula e foi uma oportunidade de mudar de vida e de crescer como pessoa. Na primeira oportunidade que tive, fui, sabendo que se não desse certo, voltaria. Tudo pelo salto em altura", revelou.

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Em maio, Almir fez o terceiro melhor salto do mundo na temporada 2018: 17,53m. Foto: Divulgação

Por muito tempo, energia, estratégia e foco de Almir eram depositadas nas provas verticais. O foco mudou por uma contingência no fim de 2016. "Eu sempre tive apreço pelos saltos horizontais, tanto distância quanto triplo. Eu achava provas bonitas, a competitividade me agradava mais do que a do salto em altura, que é uma prova mais técnica. Sempre tive um amor recolhido por essas provas", contou.

"Os meus planos eram para o salto em altura, mas houve um convite para ir a Mogi, nos Jogos Abertos do interior, para representar a cidade e somar pontos para a equipe. Para isso, tive de disputar as provas de altura, distância e triplo, principalmente porque a remuneração seria melhor. Competi nas três provas. Sem treinar, saltei 7,75m no salto em distância e venci os melhores do Brasil que estavam naquela prova", disse. "Logo depois, no salto triplo, fui o segundo, com 15m89, perdendo só para o Jean Casemiro, que era o líder do ranking brasileiro e já tinha ido para Mundial e Jogos Olímpicos. Aquilo foi o divisor de águas. Naquele momento, a gente parou e vimos um novo caminho a trilhar" , disse.

"Temos um objetivo claro, que é ser competitivo em 2020. O mais legal, desde que começamos, é que buscamos a constância. Tenho tido uma regularidade boa. Isso mostra que é um trabalho consistente"

Coragem de mudar

Mentor de Almir, Arataca viu o potencial em sua frente e os dois abraçaram a mudança. Era fim de 2016. O saltador e o técnico avaliaram e viram que era o momento certo para fazer a transição, já que era o início de um novo ciclo olímpico. "A gente não tinha nada a perder, eu vinha de um período difícil de lesões, de não conseguir marcas expressivas. Era uma oportunidade. Eu tenho muita confiança no treinador. Como ele achou que era boa a oportunidade, abracei e acho que foi a melhor escolha que já fizemos", recordou.

A transição não foi fácil. A prova de salto vertical exige uma musculatura mais leve do atleta, com menos impactos na impulsão e na aterrissagem. O salto triplo é o oposto. Uma prova de muito impacto, que exige mais da musculatura, com grande desgaste do atleta. "Essa adaptação foi complicada, difícil, mas estamos trabalhando com tranquilidade. Os resultados estão ocorrendo até de forma rápida, e temos trabalhado pensando em 2020 e 2024. Quando a gente encontra a prova ideal, mesmo sendo difícil, as transições vêm de forma natural, sem querer apressar as coisas", avalia. Nesse período, o principal objetivo é manter a constância nas marcas e evoluir com regularidade.

"Temos um objetivo claro, que é ser competitivo em 2020 e chegar lá brigando por um pódio. Os resultados têm mostrado que o trabalho está sendo bem feito. O mais legal, desde que começamos, é que buscamos a constância. Tenho tido uma regularidade boa. Isso mostra que é um trabalho consistente, não uma marca pontual", disse.

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Em Helsinque, Adhemar voa para o recorde mundial, o ouro e, em seguida, cria a volta olímpica para agradecer ao público. Foto: Acervo familiar

O tempo, nesse caso, joga a favor de Almir. Como ele é novato, tem muito o que evoluir tecnicamente. "O legal por ter pouco tempo, por estar recomeçando, é que tenho muitos erros técnicos para melhorar. Isso me dá uma gás para saber que para 2020 há uma margem para colocar as coisas no eixo e chegar cada vez melhor", disse. 

Dinastia de triplistas

O salto triplo é a prova olímpica em que o Brasil tem mais tradição. Uma história que teve início nos anos 1950. Adhemar Ferreira da Silva foi o primeiro bicampeão olímpico (Helsinque, 1952, e Melbourne, 1956) e recordista mundial cinco vezes. A tradição foi seguida por Nelson Prudêncio (prata nos Jogos do México, em 1968), João do Pulo (bronze em Montreal 1976 e Moscou, 1980) e Jadel Gregório, finalista olímpico em Atenas (2004) e prata no Mundial Indoor do mesmo ano, em Budapeste.

Breno Barros, de Cochabamba, Bolívia – rededoesporte.gov.br