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Atletismo paralímpico

12/09/2016 22h15

Arremesso de disco

Alessandro Rodrigo “brinca” no Engenhão, bate recorde paralímpico e leva o ouro no lançamento de disco

Marca de 43m06 fez o hino brasileiro tocar no Estádio Olímpico, para festa da torcida. No revezamento 4x100m, Brasil levou a prata após desclassificação da equipe dos EUA

Para Alessandro Rodrigo da Silva, o lançamento de disco, um dos mais tradicionais eventos do atletismo, é tão divertido quanto uma brincadeira. E ao disputar a final da prova na classe F11 (deficientes visuais) na noite desta segunda-feira (12.09), no Estádio Olímpico do Rio, parecia mesmo que o brasileiro estava brincando. Em seis tentativas, Alessandro poderia escolher duas para garantir a medalha de ouro. Seu segundo melhor lançamento, de 41.81m, já alcançou quase um metro a mais do que a marca do medalhista de prata, o italiano Oney Tapia, que fez 40.89m.

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Alessandro em ação: ele fez os dois melhores lançamentos das Paralimpíadas. Foto: Cleber Mendes/CPB

Mas Alessandro foi além do ouro. Com um lançamento de 43.06m no Engenhão, ele ainda garantiu o recorde paralímpico da prova. “Lançar é como brincar. É gostoso. Quando você vai mal, você quer acertar, e quando acerta você não quer parar”, contou o paulista de Santo André, explicando como superou o começo ruim na prova rumo ao topo do pódio. “No primeiro (lançamento) eu fui muito mal, no segundo também. Mas como você só precisa de um para ganhar, esse um veio”, comemorou.

Ovacionado pela torcida, ele pegou uma bandeira do Brasil e deu a volta na pista, para completar a festa. “A sensação é inexplicável. Além de ser uma medalha de ouro, é um recorde paralímpico dentro do nosso país. Eu acho que não tem como explicar, só quem vive esse momento sabe o quanto é especial. O quanto eu fiz para estar onde eu estou”.

Quando tinha 25 anos, Alessandro contraiu toxoplasmose, doença que o deixou cego. Quatro anos depois, conheceu seu atual técnico, Walter Agripino, que o chamou para treinar. Já na primeira competição, conseguiu o terceiro lugar. E a partir daí treinou manhã, tarde e noite para desenvolver o potencial. “O esporte mudou minha vida. Depois da minha família e de Deus, o esporte é tudo para mim. O esporte é onde eu consigo ter felicidade”, contou.

A família veio do ABC para incentivá-lo e a emoção foi tanta que Alessandro precisou driblar o nervosismo. “Eu achei que a apreensão iria me atrapalhar, mas entrei tranquilo na prova. Eu vim para fazer minha parte, não vim para pegar medalha, eu vim para fazer meu melhor. A medalha era a consequência daquilo que eu fizesse”. E a brincadeira toda terminou com o melhor final possível. “Que presente que eu dei para minha família e para mim”, festejou Alessandro.

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Com a bandeira do Brasil, Alessandro Silva agradece a torcida no Engenhão: emoção indescritível. Foto: Francisco Medeiros/ brasil2016.gov.br

Bronze que virou prata

A noite de medalhas do atletismo brasileiro no Estádio Olímpico começou com o revezamento 4 x 100m masculino T42-47, para atletas com amputação nos membros superiores ou inferiores. A equipe formada por Alan Fonteles, Petrucio Ferreira, Yohansson Nascimento e Renato Nunes conquistou a medalha de prata, com o tempo de 42s04.

» Leia também: Rodrigo Parreira conquista a segunda medalha paralímpica. Fábio Bordignon também foi ao pódio pela segunda vez no Rio 2016

Os brasileiros cruzaram a linha de chegada na terceira posição, mas foram beneficiados por um erro da equipe norte-americana, que havia batido o recorde mundial (40s61), mas acabou eliminada por conta de uma falha na área de transição. Com a exclusão, os alemães (40s82) ficaram com a medalha de ouro e o Japão (44s16) herdou o bronze que seria brasileiro.

“A conquista, sem dúvida, foi para lavar a alma. Para mim, estar correndo ao lado desses caras aqui foi uma experiência muito grande. A gente conquistou a prata em Pequim, a prata em Londres quando fomos desclassificados, e aqui estamos em casa correndo novamente. Ganhamos o bronze, estávamos comemorando muito, e depois a gente percebeu que a gente tinha ganhado a prata e aí começou uma nova comemoração”, disse Alan Fonteles.

Alan Fonteles, Renato Nunes, Yohansson Nascimento e Petrucio Ferreira: a prata veio após a desclassificação da equipe dos Estados Unidos. Foto: Cleber Mendes/CPB

O revezamento deu a Fonteles sua única medalha na Rio 2016. Um dos principais nomes do atletismo paralímpico brasileiro, e que ficou internacionalmente conhecido ao vencer o sul-africano Oscar Pistorius na final dos 200m em Londres 2012, disse que sai da Paralímpiada de cabeça erguida, mesmo tendo ficado de fora das finais dos 100m e 200m.

“Eu dei a cara para bater nessas Paralímpiadas e estou me levantando, erguendo a cabeça. Agora é olhar para Tóquio. A minha história está aí para ser contada. Sou um ser humano normal, como qualquer um. Tenho meus altos e baixos e infelizmente no Rio foi o meu baixo, mas estou saindo com a medalha de prata”.

Um dos destaques brasileiros na prova foi Petrucio Ferreira, de 19 anos. O atleta que compete a primeira Paralimpíada da carreira já tinha ganhado um ouro nos 100m T47. “Eu fico bastante feliz, porque eu diria que está sendo um sonho de criança se realizando em casa. Eu sempre falei que sonhava representar meu país, minha bandeira, e estou realizando esse sonho. Ontem (domingo) conquistei uma medalha, e hoje, quando entrei na pista, entrei mais confiante, porque quando eu olhava para a largada, tinha o Renato, quando eu olhava para a reta, era o Yohansson, e quando olhava para frente, era o Alan. Isso me passou uma confiança ainda maior”, afirmou o atleta.

Perguntado sobre qual atleta teria sido o mais veloz, Yohansson Nascimento decidiu destacar o trabalho em equipe. “Eu acho que essa pergunta de ser o mais rápido não existe no revezamento, porque se for falar assim, digamos que eu seja o mais lento, mas se eu não correr, não tem revezamento. Então não tem isso de melhor ou pior, é uma equipe”, concluiu o velocista, que se despede do Rio 2016 com a prata e um bronze nos 100m T47. “Eu digo que estou saindo daqui 100%. Eu fiz duas provas e coloquei duas medalhas no peito. Estou feliz. São 4.350 atletas aqui e quantos estão voltando para casa sem nenhuma medalha? Eu estou com duas, um bronze e uma prata. Será que se eu juntar dá um ouro?”, brincou.

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Guia de Modalidades e Atletas Paralímpicos (arquivo em formado PDF)

Mais brasileiros 

Outros brasileiros estiveram em ação na noite desta segunda-feira no Engenhão. Terezinha Guilhermina venceu sua prova na semifinal dos 200m rasos da classe T11 e garantiu vaga na final, que vai ser disputada nesta terça-feira (13.09). Jhulia Santos e Jerusa Santos também participaram, mas não se classificaram.

Na semifinal dos 1.500m T54, Maria de Fátima e Aline Rocha terminaram suas baterias na oitava e sexta colocação, respectivamente, e também não avançaram para a final. No lançamento de dardo F56/57, Cícero Nobre ficou em quarto. Na mesma prova, Claudiney Batista dos Santos foi o quinto. No salto em altura T44, o brasileiro Jeosah Santos ficou em sexto, com a marca de 1.85m. Márcio Braga Leite disputou o lançamento de disco F11 com Alessandro Silva e terminou na quinta posição.

Mateus Baeta e João Paulo Machado - Brasil2016.gov.br