Você está aqui: Página Inicial / Notícias / “O objetivo é buscar a medalha”, afirma Antônio Carlos Barbosa sobre Rio 2016

Basquete

20/01/2016 10h29

Entrevista

“O objetivo é buscar a medalha”, afirma Antônio Carlos Barbosa sobre Rio 2016

Técnico da seleção feminina de basquete aborda boicote das atletas, lembra o bronze em Sydney 2000 e fala em resgate da modalidade no país

BarbosaGetty4.jpg
Antônio Carlos Barbosa: terceira passagem pela seleção e o maior desafio da carreira no Rio 2016. Foto: Getty Images

Em 14 de abril de 2016, Antônio Carlos Barbosa completa 71 anos de idade, grande parte deles dedicado ao basquete feminino. Convidado a assumir a seleção brasileira pela terceira vez, o treinador tem em 2016 o maior desafio da extensa carreira: comandar a equipe em busca de uma medalha nos Jogos Olímpicos Rio 2016, em casa.

A tarefa não é simples. O basquete feminino brasileiro passa por um período grande sem resultados expressivos. Mas nada que impeça o novo técnico de sonhar alto. “Eu tenho uma meta, sim. É muito cômodo eu dizer que se melhorar um pouco já está bom. Sair de nono para oitavo, ou sétimo. Podemos até ficar por aí, mas o objetivo é buscar a medalha”, avisa Barbosa.

BarbosaGetty2.jpg
Barbosa nos Jogos de Sydney 2000: medalha de bronze inesperada. Foto: Getty Images

As duas passagens anteriores pelo comando da seleção feminina foram emblemáticas por motivos diferentes. Na primeira, de 1976 a 1984, Barbosa lançou na equipe adulta os dois principais nomes do país na modalidade: Paula e Hortência. Mais tarde, a dupla foi protagonista da equipe campeã do Pan de Havana 1991, em Cuba; campeã mundial em 1994; e medalha de prata nos Jogos de Atlanta 1996.

Quando Antônio Carlos Barbosa retornou à equipe, em 1997, Hortência já tinha se aposentado e Paula já preparava a despedida. Em 2000, o treinador teve que lidar com outra reformulação, desta vez liderada por Janeth, que ajudou o comandante a alcançar o inesperado bronze nos Jogos Olímpicos de Sydney 2000, uma conquista memorável na carreira.

“Foi uma equipe que foi desacreditada. Levamos seis jogadoras que não tinham disputado os Jogos de Atlanta. Era uma equipe que ninguém dava nada por ela. Foi extremamente significativo para essa geração porque não estava programada a medalha”, lembra o treinador.

Para 2016, Barbosa se encontra novamente em uma situação delicada. Além da ingrata missão de devolver o Brasil ao pódio do basquete feminino após anos de dificuldade, o comandante ainda lida com a tensão entre a Confederação Brasileira de Basquete (CBB) e a Liga de Basquete Feminina (LBF), que resultou no pedido de dispensa de sete atletas no evento-teste da modalidade, realizado na Arena Carioca 1 entre 15 e 17 de janeiro.

» Iziane: "Se pudesse voltar para trás no tempo com a visão de hoje, seria maravilhoso"

Ainda assim, Barbosa será exigente consigo mesmo e com suas comandadas. “Inicialmente não teria nenhuma responsabilidade. Pior que está não fica. Mas a responsabilidade é grande, sim. Queremos deixar uma marca de resgate do basquete feminino brasileiro. Ele não estava no lugar que deveria estar nas últimas condições, em classificações totalmente incompatíveis com a tradição e o nível técnico de nossas jogadoras”, declara.

Entrevista

O retorno à seleção brasileira

Eu não esperava, não tinha expectativa de voltar a dirigir uma seleção por que é muito difícil você passar e retornar. Chegar a primeira vez não é tão complicado, mas ficar voltando é difícil. Eu tive esse privilégio de voltar pela terceira vez e, em vez de achar que é um problema, acho que é um mérito. Me deu orgulho ser novamente lembrado. Não tinha por que dizer não.

505433184.jpg
Barbosa assume a responsabilidade de resgatar o basquete feminino do Brasil. Foto: Getty Images

A experiência de competir em casa no Pan de 2007

Foi maravilhoso. Infelizmente não pudemos contar com nossa força completa. Tínhamos terminado o Mundial de 2006 e entrado num processo de renovar a equipe. Ainda tivemos as ausências da Érika e da Iziane, que foram para a WNBA, e na mesma época teve o Mundial sub-21 na Rússia, que tirou várias jogadoras que poderiam completar a equipe. Apesar disso, conseguimos a prata. A receptividade nos emocionou. Foi a minha despedida e a da Janeth da seleção. O povo carioca é maravilhoso. É um prazer estar no Rio sempre. Foi emocionante e fizemos uma campanha muito boa dentro das possibilidades.

Expectativa para o Rio 2016

Se em um Pan tivemos um apelo de público enorme, você imagina numa Olimpíada, que é a competição máxima. Sempre digo que o alcance é muito maior. A Olimpíada envolve mais de 200 países, existem modalidades com aficionados em todo o mundo. É fascinante. Será minha terceira edição. Fui a Sydney, Atenas e agora aqui no Rio, com uma responsabilidade grande. Inicialmente não teria nenhuma, pior que está não fica, mas a responsabilidade é grande, sim. Queremos deixar uma marca de resgate do basquete feminino. Ele não estava no lugar que deveria estar nas últimas competições, em classificações totalmente incompatíveis com a tradição e o nível técnico das nossas jogadoras.

Momento atual do basquete feminino

(Na minha última passagem) Conquistamos dois títulos inéditos de Copa América, um Pré-Olímpico das Américas dificílimo, com uma vaga só para Atenas 2004 e o Brasil era o quarto no ranking da Federação Internacional de Basquete (FIBA). Hoje perdemos isso tudo. As jogadoras perderam a autoestima e, quando isso acontece, você começa a duvidar de você mesmo. Aí eu vejo o ponto maior da responsabilidade do meu trabalho. Eu tenho uma meta, sim. É cômodo dizer que se melhorar um pouco já está bom. Sair de nono para oitavo ou sétimo. Podemos até ficar por aí, mas o objetivo é buscar a medalha.

Bronze em Sydney 2000

Foi uma equipe que foi desacreditada. Tivemos um time campeão do mundo e vice olímpico. Aí saíram a Paula e a Hortência. Quando fomos para Sydney, levamos seis jogadoras que não tinham disputado a Olimpíada de Atlanta. Era uma equipe que ninguém dava nada por ela. Foi extremamente significativo para essa geração porque não estava programada essa medalha.

BarbosaGetty1.jpg
Em Sydney 2000, Brasil venceu a Rússia nas quartas de final e bateu a Coreia na disputa pelo bronze. Foto: Getty Images

Momento mais marcante

Foi o jogo contra a Rússia (semifinal). O jogo estava perdido e de repente viramos no fim. Perdemos nossa grande estrela, a Janeth, faltando seis minutos. Ela cometeu a quinta falta e não pudemos jogar com ela. Assim mesmo fomos valentes e viramos. Faltando 15, 16 segundos, estávamos um ponto atrás e pedi um tempo. Montamos uma jogada e a Alessandra fez a cesta. Foi um momento muito bonito, em que eu invadi a quadra achando que tinha terminado.

BronzeSydney2000.jpg
Seleção feminina no pódio com a medalha de bronze em Sydney. Foto: Getty Images

Elogios de Érika e Iziane ao estilo “paizão”

Minha vida toda foi no basquete feminino. A jogadora do feminino tem esse nível de sensibilidade de sentir muito a adversidade. Não vou chegar ao ponto de dizer que são passionais, mas o ponto de equilíbrio delas é mais sensível. Você tem de estar atento. Realmente sou paizão, mas quando tem que chamar, chamo. Sinto prazer de estar aqui com elas. Elas sabem os direitos que têm comigo, têm confiança de que têm um amigo.

Mudanças ao longo das passagens pela seleção

Sou um homem bem mais equilibrado, com mais maturidade e mais controlado emocionalmente. Me considero cada vez melhor como técnico. Sou uma pessoa que mesmo fora do basquete estou sempre ligado a tudo o que acontece, estudando o jogo em si, acompanhando notícias. Vai passando o tempo e as pessoas raciocinam ao contrário e acham que você vai ficando pior. Mas você vai ficando melhor, desde que se atualize. Você vai passando por situações e sabe agir. Não há nada que surja num jogo de basquete hoje que eu já não tenha tido que lidar. Estou num momento de total encontro comigo mesmo.

Prazo para acabar o boicote das jogadoras

Na minha cabeça não passa que esse problema vai estar na Olimpíada. Primeiro porque nenhuma jogadora vai querer ficar fora. Segundo que a maioria dos clubes encerra o campeonato e o contrato com elas também. Eles podem querer renovar antes, para talvez ter o direito de criar alguma situação, mas não acredito que tenham esse nível de insanidade. Você radicalizar a situação e não querer dar um passo atrás eu até desculpo. Às vezes chega numa situação que fica ruim voltar atrás e tem que manter aquilo até o fim. Mas o prejuízo maior é para o basquete. Se você mantiver uma posição parecida com essa em termos de Olimpíada, é insanidade.

AqueceRio_Basketball_Dia17_26_9170_MiriamJeske_HeusiAction.jpg
Barbosa aposta na força do garrafão brasileiro, liderado pela pivô Érika, para surpreender no Rio 2016. Foto: Miriam Jeske/Brasil2016.gov.br

Força do garrafão brasileiro

São cinco jogadoras, todas com passagem pela WNBA. A Clarissa, a Damiris e a Érika atualmente, a Nádia até recentemente e a Kelly num passado mais distante. Mas quando eu digo passagem, não é ir lá jogar três meses e voltar. Elas tiveram várias temporadas lá. Com exceção dos Estados Unidos, não tem nenhum país com cinco jogadoras desse nível dentro do garrafão. Vamos tentar fazer alguns ajustes e aproveitar todas de uma maneira que a gente cause alguma surpresa e estrago para as outras equipes.

Vagner Vargas – Brasil2016.gov.br