Você está aqui: Página Inicial / Notícias / Atletas da ginástica de trampolim miram estreia olímpica em 2016

09/05/2014 11h49

Atletas da ginástica de trampolim miram estreia olímpica em 2016

Expectativa dos brasileiros é de conseguir uma segunda vaga para o Rio de Janeiro e aproveitar o evento para tornar a modalidade mais conhecida no país

Os saltos lembram em muito os movimentos dos artistas circenses ou até mesmo dos atletas de saltos ornamentais. Ainda com pouca tradição no Brasil, a ginástica de trampolim acaba muitas vezes confundida. “Quando falo que pratico trampolim, quase ninguém sabe o que é”, conta Rafael Andrade, 28 anos, integrante da Seleção Brasileira adulta. Essa realidade, no entanto, pode começar a mudar em 2016, quando o país será representado nos Jogos Olímpicos pela primeira vez na modalidade.

É o que espera quem se dedica todos os dias ao esporte. “Nos Jogos Pan-Americanos de 2007, a ginástica de trampolim apareceu bastante na mídia. Espero que nas Olimpíadas seja ainda melhor. Será a oportunidade de mostrar a modalidade para as pessoas”, acredita a técnica da Seleção Tatiana Figueiredo.

Bem mais recente do que outras ginásticas, a de trampolim entrou para o programa dos Jogos apenas na edição de Sydney-2000, enquanto a artística, por exemplo, é disputada desde a primeira edição das Olimpíadas da Era Moderna, realizada em 1896, em Atenas. Até mesmo os técnicos do trampolim eram antes, em boa parte dos casos, atletas da modalidade artística, como é o caso de Tatiana, que disputou a edição olímpica de Los Angeles-1984. O cenário está começando a mudar na medida em que atletas do próprio trampolim decidem se aposentar e tornam-se treinadores.

Fotos: Ricardo Bufolin/CBG

Diante das evoluções do esporte, o Brasil vem se fortalecendo cada vez mais. A Seleção conta hoje com cinco atletas no masculino — Alexandre da Silva, Breno Lucas Souza, Carlos Ramirez, Luis Arruda e Rafael Andrade — e com três no feminino — Camilla Gomes, Giovanna Matheus e Joana Perez —, que representam o país em competições internacionais, como Copas do Mundo, Mundiais e Jogos Pan-Americanos.

Giovanna, por exemplo, foi bronze na Copa do Mundo do Japão, em 2011, enquanto Rafael conquistou a prata no Pan de Guadalajara-2011. Seis dos integrantes da equipe são beneficiados pela Bolsa-Atleta, do Ministério do Esporte.

“Por ser sede, o Brasil já tem uma vaga certa nos Jogos de 2016, que será do atleta que tiver a melhor classificação no Mundial de 2015, na Dinamarca. Mas vamos treinar para conseguirmos uma segunda vaga”, explica Tatiana. “Participar dos Jogos é o sonho de todo atleta de alto nível. Assim como os meus colegas, tenho o objetivo de conseguir a vaga não apenas pelo direito do Brasil, mas por mérito próprio. Estamos treinando para isso”, assegura Rafael Andrade, que abriu mão temporariamente da profissão de dentista para dedicar-se exclusivamente ao esporte.

Para isso, no entanto, os brasileiros precisam enfrentar grandes potências como China, Rússia, Ucrânia, Bielorrússia, França, Alemanha, Japão e Canadá. Além deles, a Inglaterra investiu na modalidade à época dos Jogos de Londres e acabou campeã do último Mundial. Para tornar a competição ainda mais acirrada, há apenas 16 vagas no feminino e 16 no masculino para os Jogos Olímpicos.

Nesse caminho até 2016, a Seleção Brasileira terá importantes compromissos. Em agosto deste ano será realizado o Pré Pan-Americano, no Canadá, que valerá vagas para os Jogos Pan-Americanos de Toronto, em 2015. Em setembro, embarcam para a Copa do Mundo da Bielorrússia. Já em novembro, os atletas disputam o Campeonato Mundial, nos Estados Unidos. Como preparação, os treinamentos são realizados de segunda a sábado nos clubes de cada atleta, sendo que a maior parte deles mora hoje no Rio de Janeiro.

Por dentro da modalidade

Nas competições, os atletas precisam apresentar duas séries de elementos, cada uma com dez saltos, sem repetição. Antes da prova, os atletas preenchem um cartão informando o que será exibido para amparar a avaliação dos árbitros. Na primeira apresentação, apenas dois dos saltos valem nota de dificuldade. Dessa maneira, a série costuma ser mais fácil do que a segunda, em que todos os elementos contam pontos de dificuldade.

Há árbitros escalados para avaliar a execução dos movimentos e o grau de dificuldade técnica, enquanto o tempo de voo é analisado por uma máquina, por meio de sensores instalados na cama elástica, que gera uma nota exata para o atleta. Em caso de repetição de elementos, há penalização. Após as duas apresentações, são definidos oito finalistas, sendo no máximo dois por país, que apresentarão uma série livre, também composta por dez saltos.

A única modalidade que consta no programa dos Jogos Olímpicos é a do trampolim individual, mas há ainda o sincronizado, o duplo mini-trampolim e o tumbling. No individual, a cama elástica, como é popularmente conhecida, mede aproximadamente 5m x 3m e é geralmente feita de nylon. No sincronizado, dois atletas precisam executar os movimentos simultaneamente, em trampolins paralelos e separados a uma distância de 2m. No duplo mini, é preciso realizar uma corrida antes do salto no aparelho. Já no tumbling, os movimentos são feitos em uma pista de 26m.

Primeiros passos

É possível começar cedo na modalidade, por volta dos cinco anos de idade. Aos seis, já há competições mirins estaduais, enquanto as internacionais têm início a partir dos 11. Mas para chegar ao alto rendimento o processo é longo.

“Leva ao menos dez anos para formarmos um atleta de nível olímpico”, estima a técnica Tatiana Figueiredo. Integrante da Seleção adulta, o goiano Rafael Andrade começou na ginástica aos sete anos, por indicação de um professor de educação física. “Eu ficava de cabeça para baixo o tempo inteiro e fazia ‘estrelinha’ mesmo sem nunca ter tido alguma aula. Então ele disse para a minha mãe me levar para a ginástica”, recorda-se. “Quando comecei a evoluir, aos nove anos, fui treinar no trampolim por ter uma aparelhagem mais nova do que a da artística”, conta.

A dedicação do jovem foi tanta que o levou a mudar-se de Goiânia em 2004, passando por Curitiba até 2007, onde ficava concentrada a Seleção. Desde então, Rafael mora sozinho e treina no Rio de Janeiro. “É bem difícil ir para outra cidade porque muda sua vida inteira. Tive que pedir transferência na faculdade e me adaptar a um lugar maior”, comenta o dentista que, mesmo com os treinamentos e competições, conseguiu concluir o curso e fazer uma especialização. O ginasta, contudo, optou neste ano pela dedicação exclusiva ao esporte. “Estamos nos anos mais importantes da preparação olímpica”, justifica o atleta, que pretende encerrar a carreira em 2016, aos 30 anos.

Percorrendo esse caminho, três brasileiros estão em Daytona Beach, na Flórida (Estados Unidos), para a disputa do Campeonato Pan-Americano Juvenil. Breno Lucas Souza, Luis Arruda e Larissa Trópia disputam, neste fim de semana, a competição classificatória para os Jogos Olímpicos da Juventude, em agosto, na China. Entre os principais concorrentes estão os Estados Unidos e o Canadá.

Ana Cláudia Felizola, da equipe do Portal Brasil 2016